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O Herói Perdido - CAP. 24

.. domingo, 31 de março de 2013

Capítulo XXIV - Leo


LEO PAROU NA PORTA e tentou controlar sua respiração. A voz da mulher de terra ainda ecoava em seus ouvidos, fazendo-lhe lembrar da morte da mãe. A última coisa que ele queria fazer era mergulhar em outro armazém escuro. Subitamente ele se sentiu com oito anos novamente, sozinho e desamparado enquanto alguém que ele amava estava armadilha e estava em perigo.
Pare, ele falou para si. É como ela quer que você se sinta.
Mas aquilo não o deixava menos assustado. Ele respirou profundamente e examinou o lado de dentro. Nada parecia diferente. A luz cinza da manhã se infiltrava pelo buraco no telhado. Algumas lâmpadas tremeluziam, mas a maioria do chão da fábrica ainda estava perdida em sombras. Ele podia distinguir a passarela acima, as sombras das pesadas máquinas da linha de montagem, mas nenhum movimento. Nenhum sinal dos amigos.
Ele quase gritou, mas algo o parou — um sentido que ele não podia identificar. Então ele percebeu que era cheiro. Algo cheirava mal... como óleo de motor queimado e hálito azedo.
Algo não humano estava dentro da fábrica. Leo tinha certeza. Seu corpo entrou em alerta, todos os nervos formigando. Em algum lugar, vindo do piso da fábrica, a voz de Piper gritou:
— Leo, socorro!
Mas Leo segurou a língua. Como Piper poderia ter descido com seu tornozelo quebrado?
Ele deslizou para dentro e se abaixou atrás de um container de carga.
Lentamente, apertando seu martelo, ele foi para o centro da sala, escondido atrás de caixas e chassis de caminhões vazios. Finalmente ele alcançou a linha de montagem. Ele agachou atrás da peça mais próxima de maquinaria — um guindaste com um braço robótico.
A voz de Piper gritou novamente:
— Leo? — Soava menos segura dessa vez, mas muito perto.
Leo espiou ao redor da maquinaria. Pendurado diretamente acima da linha de montagem, suspenso por uma corrente de um guindaste no lado oposto, havia um pesado motor de caminhão — balançando a apenas dez metros de altura, como se houvesse sido deixado ali quando a fábrica foi abandonada. Abaixo, na esteira transportadora havia um chassi de um caminhão, e encostados ao redor dele, havia três sombras escuras do tamanho de empilhadeiras. Perto, dependuradas nas correntes de outros braços robóticos, havia duas formas menores — talvez mais motores, mas uma delas estava se contorcendo como se estivesse viva.
Então uma das sombras se levantou, e Leo percebeu que era um humanoide tremendamente grande.
— Eu te disse que não era nada — a coisa resmungou. Sua voz era muito rouca e feroz para ser humana.
Outra sombra também se moveu, e gritou na voz de Piper:
— Leo, me ajude! Socorro... — Então a voz mudou, virando um rosnado masculino. — Bah, não tem ninguém ali. Nenhum semideus pode ser tão quieto, né?
O primeiro monstro riu.
— Provavelmente fugiu, se ele sabe o que é bom para ele. Ou a garota estava mentindo sobre um terceiro semideus. Vamos cozinhar.
Estalo. Uma luz laranja brilhante chiou a vida — um sinalizador — e Leo temporariamente ficou cego. Ele se abaixou atrás do guindaste até seus olhos se acostumarem. Então ele deu outra espiada, e encontrou uma cena que nem Tia Callida poderia ter pensado.
As duas coisas menores balançando dos braços dos guindastes não eram motores. Eram Jason e Piper. Ambos pendurados de cabeça para baixo, amarrados com correntes dos tornozelos até o pescoço. Piper estava se debatendo, tentando se livrar. Sua boca estava amordaçada, mas pelo menos ela estava viva. Jason não parecia tão bem. Ele estava pendurado sem firmeza, os revirados. Tinha uma mancha vermelha e inchada do tamanho de uma maçã sobre sua sobrancelha esquerda.
Na esteira transportadora, a carcaça do caminhã inacabado estava sendo usado como fogareiro. O sinalizador havia incendiado com uma mistura de pneus e madeira, que, pelo cheiro, fora mergulhada em querosene. Um grande mastro de metal estava suspenso sobre as chamas — um espeto, Leo percebeu, o que significava que era um fogo para cozinhar.
Mas o mais aterrorizante de tudo eram os cozinheiros.
Monocle Motors: aquela logomarca de um olho vermelho. Por que Leo não percebeu antes?
Três humanoides enormes se reuniram ao redor do fogo. Dois estavam em pé, atiçando as chamas. O maior se abaixou com as costas para Leo. Os dois que o encaravam tinham, cada um, três metros de altura, corpo musculoso e peludos e uma pele que brilhava vermelha na luz do fogo. Um dos monstros usava uma tanga de malha de ferro que realmente parecia desconfortável. O outro usava uma toga esfarrapada e felpuda feita de fibra de vidro de isolamento térmico, que também não seria uma das ideias de guarda-roupa principais de Leo. Além disso, os dois monstros poderiam ser gêmeos. Cada um tinha um rosto selvagem com um único olho no centro da testa. Os cozinheiros eram ciclopes.
As pernas de Leo começaram a tremer. Ele vira algumas coisas estranhas até agora — espíritos da tempestade, deuses alados e um dragão de metal que gostava de molho de pimenta. Mas isso era diferente. Esses eram monstros de carne e osso com três metros de altura que queriam seus amigos como jantar.
Ele estava tão aterrorizado que mal podia pensar. Se ao menos tivesse Festus... poderia usar um tanque blindado que cospe fogo. Mas tudo que tinha era um cinto de ferramentas inútil e uma mochila. Seu martelo de três quilos parecia tremendamente pequeno comparado a aqueles ciclopes.
Era disso que a mulher adormecida estava falando. Ela queria que Leo partisse e deixasse seus amigos morrerem.
Aquilo decidia a questão. Sem chance que Leo ia deixar aquela mulher de terra fazer-se sentir sem poder — nunca mais. Leo tirou sua mochila e silenciosamente começou a abrir o zíper. O ciclope de tanga de malha de ferro avançou para Piper, que contorcia e tentava acertá-lo no olho.
— Eu posso tirar a mordaça dela agora? Eu gosto quando eles gritam.
A pergunta era direcionada para o terceiro ciclope, aparentemente o líder. A figura abaixada grunhiu, e o Tanga arrancou a mordaça da boca de Piper. Ela não gritou. Só respirou fundo, como se tentasse se acalmar.
Enquanto isso, Leo encontrou o que queria na mochila: uma pilha de controles remotos minúsculos que ele pegara no bunker 9. Pelo menos ele esperava que fosse isso. O painel de manutenção do guindaste robótico era fácil de encontrar. Ele tirou uma chave de fenda do cinto de ferramentas e foi ao trabalho, mas tinha que ir lentamente. O líder ciclope estava só a seis metros dele. Os monstros obviamente tinham sentidos excelentes. Ter sucesso no plano sem fazer barulho parecia impossível, mas ele não tinha muitas chances.
O ciclope de toga atiçou o fogo, que agora estava bem alto e elevava uma fumaça negra e nociva para o teto. Seu amigo Tanga fitou Piper, esperando ela fazer algo engraçado.
— Grite, garota! Eu acho gritar engraçado!
Quando Piper finalmente falou, seu tom estava calmo e razoável, como se estivesse corrigindo um filhote desobediente.
— Ah, senhor ciclope, você não quer nos matar. Seria muito melhor se vocês nos soltasse.
Tanga coçou sua cabeça disforme. Ele virou para o amigo na toga de fibra de vidro.
— Ela é um pouco bonita, Torque. Talvez eu devesse soltá-la.
Torque, o cara na toga, grunhiu.
— Eu a vi primeiro, Sump. Eu vou soltá-la!
Sump e Torque começaram a discutir, mas o terceiro ciclope levantou e gritou:
— Tolos!
Leo quase derrubou a chave de fenda. O terceiro ciclope era... mulher. Ela era vários metros mais alta que Torque ou Sump, e ainda mais forte. Ela usava um vestido de malha de ferro cortado como um daqueles vestidos-saco que a desprezível Tia Rosa de Leo costumava vestir. Como eles chamavam aquilo — um muumuu? Sim, a senhora ciclope tinha um muumuu de malha de ferro. Seus escuros cabelos oleosos estavam presos em tranças com fios de cobre e arruelas de metal. Seu nariz e boca eram largos e quase achatados, como se ela gastasse as horas vagas batendo seu rosto na parede; mas seu único olho vermelho brilhava com inteligência maligna.
A mulher ciclope se aproximou silenciosamente de Sump e o empurrou para o lado, atirando-o na esteira. Torque recuou rapidamente.
— A garota é cria de Vênus — a senhora ciclope rosnou. — Ela está usando encantamento em vocês.
Piper começou a dizer:
— Por favor, madame...
— Argh! — A senhora ciclope pegou Piper pela cintura. — Não tente sua bonita fala comigo, garota! Eu sou Ma Gasket! Já comi heróis mais valentes que você como almoço!
Leo temeu que Piper fosse ser triturada, mas Ma Gasket só a soltou e a deixou balançar na corrente. Então ela começou a gritar com Sump sobre como ele era estúpido.
As mãos de Leo trabalharam furiosamente. Ele emaranhou fios e virou chaves, dificilmente pensando no que estava fazendo. Terminou de encaixar o controle remoto. Então engatinhou para o próximo braço robótico enquanto os ciclopes estavam conversando.
— ...comê-la por último, Ma? — Sump estava dizendo.
— Idiota! — Ma Gasket gritou, e Leo percebeu que Sump e Torque deviam ser seus filhos. Nesse caso, feiura definitivamente corria no sangue da família. — Eu devia ter lhes jogado nas ruas quando vocês eram bebês, como deve ser feito com ciclopes. Vocês poderiam ter aprendido algumas habilidades úteis. Maldita hora em que esse meu coração mole me fez mantê-los em casa!
— Coração mole? — Torque murmurou.
— O que disse, seu ingrato?
— Nada, Ma. Eu disse que você tem um coração bom. Temos que trabalhar para você, alimentá-la, lixar suas unhas...
— E você devia ser grato! — Ma Gasket berrou. — Agora, atice o fogo, Torque! E Sump, seu idiota, meu molho preferido está no outro armazém. Não me diga que você esperou que eu comesse esses semideuses sem molho!
— Sim, Ma — Sump disse. — Digo, não, Ma. Digo...
— Vá pegar o molho! — Ma Gasket levantou um chassi de caminhão próximo e atirou na cabeça de Sump. Sump caiu aos joelhos. Leo tinha certeza que um golpe daquele iria matá-lo, mas Sump aparentemente estava acostumado. Ele conseguiu tirar o chassi da cabeça, então cambaleou e correu para trazer o molho.
A hora é agora, Leo pensou. Enquanto eles estão separados.
Ele terminou a fiação da segunda máquina e moveu-se para a terceira. Enquanto corria entre os braços mecânicos, os ciclopes não o viram, mas Piper sim. Sua expressão mudou de terror para incredulidade, e ela ofegou.
Ma Gasket virou para ela.
— Qual o problema, garota? Você é tão frágil que eu quebrei você?
Felizmente, Piper pensava rápido. Ela desviou o olhar de Leo e disse:
— Acho que são minhas costelas, madame. Se eu estiver quebrada por dentro, vou ter um gosto horrível.
Ma Gasket caiu em risadas.
— Essa foi boa. O último herói que comemos... lembra-se dele, Torque? Filho de Mercúrio, não era?
— Sim, Ma — Torque disse. — Saboroso. Um pouco pegajoso.
— Ele tentou um truque assim. Disse que estava tomando remédio. Mas o gosto dele era incrível!
— Parecia carneiro — Torque recordou. — Camisa roxa. Falava em Latim. Sim, um pouco pegajoso, mas bom.
Os dedos de Leo congelaram no painel de manutenção. Aparentemente, Piper estava tendo o mesmo pensamento que ele, pois ela perguntou:
— Camisa roxa? Latim?
— Comida boa — Ma Gasket disse afetuosamente. — O ponto, garota, é que não somos tão estúpidos como as pessoas pensam! Não caímos naqueles truques e enigmas estúpidos, não nós, ciclopes do norte.
Leo se forçou de volta ao trabalho, mas sua mente estava correndo. Uma criança que falava latim fora pega aqui — com uma camisa roxa como a de Jason? Ele não sabia o que significava, mas tinha que deixar o interrogatório para Piper. Se ele fosse ter alguma chance de ganhar daqueles monstros, ele tinha que se mexer rápido antes que Sump voltasse com o molho.
Ele olhou para o bloco de motor suspenso logo acima do acampamento dos ciclopes. Ele desejou que pudesse usá-lo — seria uma grande arma. Mas o guindaste que o segurava estava no lado oposto da esteira transportadora. Não havia jeito de Leo chegar ali sem ser visto e, além disso, ele estava correndo contra o tempo.
A última parte do plano era a mais complicada. Do seu cinto de ferramentas ele convocou alguns fios, um adaptador de rádio, uma chave de fenda pequena e começou a construir um controle remoto universal. Pela primeira vez, ele disse um obrigado silencioso ao pai — Hefesto — pelo cinto de ferramentas. Me tire daqui, ele rezou, e talvez você não seja um idiota tão grande.
Piper continuou falando, exagerando nos elogios.
— Ah, eu ouvi falar dos ciclopes do norte! — o que Leo calculou que era conversa furada, mas ela pareceu convencida. — Eu não sabia que vocês eram tão grandes e espertos!
— Bajulação não vai funcionar também — Ma Gasket disse, embora parecesse satisfeita. — É verdade, você será o café da manhã dos melhores ciclopes dessa região.
— Mas os ciclopes não são bons? — Piper perguntou. — Pensei que vocês faziam armas para os deuses.
— Bah! Eu sou muito boa. Boa em comer pessoas. Boa em esmagar. E boa em construir coisas, sim, mas não para os deuses. Nossos primos, os ciclopes anciões, eles fazem isso, sim. E pensam que são mais importantes que nós só porque são algumas centenas de anos mais velhos. Então há nossos primos do sul, vivendo em ilhas e cuidando de ovelhas. Otários! Mas nós, ciclopes hiperbóreos, o clã do norte, somos os
melhores! Fundamos a Monocle Motors nessa fábrica velha: as melhores armas, armaduras, bigas e SUVs eficientes! Mas, claro, fomos obrigados a fechá-la. Demitimos a maior parte da tribo. A guerra foi muito rápida. Os titãs perderam. Nada bom! Não havia mais necessidade de armas dos ciclopes.
— Ah, não — Piper simpatizou. — Tenho certeza que você fez algumas armas incríveis.
Torque riu.
— Martelos estridentes de guerra! — Ele pegou uma estaca larga com uma caixa de metal na ponta, parecendo um acordeom.
Ele o bateu contra o chão e o cimento rachou, mas também houve um som como o do maior patinho de borracha do mundo sendo apertado.
— Aterrorizante — Piper disse.
Torque pareceu agradecido.
— Não tão bom quanto o machado detonador, mas esse pode ser usado mais de uma vez.
— Eu posso ver? — Piper perguntou. — Se você pudesse soltar minhas mãos...
Torque deu um passo para frente ansiosamente, mas Ma Gasket disse:
— Estúpido! Ela esté lhe enganando de novo. Chega de conversa! Mate o garoto primeiro, antes que ele morra. Eu gosto de carne fresca.
Não! Os dedos de Leo voaram, conectando os cabos para o controle remoto. Só mais alguns minutos!
— Ei, espere — Piper disse, tentando chamar a atenção dos ciclopes. — Ei, eu posso só perguntar...
Os fios faiscaram na mão de Leo. Os ciclopes congelaram e viraram na sua direção. Então Torque pegou um caminhão e jogou nele.

Leo rolou enquanto o caminhão amassava as máquinas. Se ele fosse meio segundo mais lento, teria sido esmagado.
Ele se levantou, e Ma Gasket o localizou. Ela gritou:
— Torque, seu ciclope patético, pegue-o!
Torque correu na direção dele. Leo freneticamente armou o botão do controle remoto improvisado.
Torque estava a quinze metros de distância. Seis metros.
Então o primeiro braço robótico genhou a vida. Uma garra metálica amarela de três toneladas golpeou o ciclope nas costas tão forte que ele caiu de cara no chão. Antes que Torque pudesse se recuperar, a mão robótica o pegou por uma perna e o arremessou para cima.
— AHHHHH! — Torque voou verticalmente para a escuridão.
O teto era muito escuro e muito alto para ver exatamente o que aconteceu, mas julgando pelo clang!, Leo supôs que o ciclope batera em uma das vigas de suporte.
Torque não voltou. Em vez disso, pó amarelo choveu para o chão. Ele se desintegrara.
Ma Gasket olhou para Leo em choque.
— Meu filho... Você... Você...
Como se em sugestão, Sump entrou com ruídos na luz do fogo com uma embalagem de molhos.
— Ma, eu trouxe o extrapicante...
Ele não terminou a frase. Leo girou o botão do controle remoto, e o segundo braço robótico golpeou Sump no peito. A embalagem de molho explodiu como uma piñata e Sump voou para trás, direto na base da terceira máquina de Leo. O ciclope era imune a chassis de caminhão, mas não a braços mecânicos que podiam desferir golpes com muita força. O terceiro braço do guindaste o golpeou contra o chão tão forte que ele explodiu em pó como um saco de farinha rasgado.
Dois ciclopes a menos. Leo estava começando a se sentir o Vencedor do Cinto de Ferramentas quando Ma Gasket fixou seus olhos nele. Ela pegou o guindaste mais próximo e o arrancou do seu pedestal com um rugido selvagem.
— Você destruiu os meus filhos! Só eu posso destruí-los!
Leo socou um botão, e os dois braços restantes balançaram em ação. Ma Gasket pegou o primeiro e o dilacerou no meio. O segundo a acertou em cheio na cabeça, mas aquilo só pareceu enfurecê-la mais. Ela agarrou o braço pelas pinças, arrancou-o e o balançou no alto como um taco de beisebol. Não acertou Piper e Jason por pouco. Então Ma Gasket o soltou — lançando-o em direção a Leo. Ele gritou e rolou para um lado enquanto a máquina ao lado dele era destruída.
Leo começou a pensar que uma mãe ciclope com raiva não era algo que você queira lutar com um controle remoto universal e uma chave de fenda. O futuro para o Vencedor do Cinto de Ferramentas não estava parecendo tão incrível.
Ela estava a aproximadamente seis metros dele agora, do lado do fogo. Seus punhos estavam cerrados, seus dentes a mostra. Ela parecia ridícula com seu muumuu e com suas tranças sebentas — mas dado o olhar assassino no seu grande olho vermelho e o fato que ela tinha seis metros de altura, Leo não estava rindo.
— Mais algum truque, semideus? — Ma Gasket exigiu.
Leo olhou para cima. O bloco de motor suspenso na corrente — se ele tivesse tempo de usá-lo. Se pudesse fazer com que Ma Gasket desse mais um passo a frente. A corrente em si... Aquele elo... Leo não conseguia ver, especialmente de tão longe, mas seus sentidos lhe disseram que o metal estava desgastado.
— Sim, tenho mais truques! — Leo levantou seu controle remoto. — Dê mais um passo, e eu vou te destruir com fogo!
Ma Gasket riu.
— Ah, é? Ciclopes são imunes a fogo, seu idiota. Mas se você deseja brincar com chamas, deixe-me ajudar!
Ela escavou brasas vermelhas e quentes com as mãos nuas e as arremessou em Leo. Todas pousaram ao redor dos seus pés.
— Você errou — ele disse incredulamente.
Então Ma Gasket sorriu e levantou um barril do lado do caminhão. Leo só teve tempo de ler a palavra gravada nele: QUEROSENE antes de Ma Gasket jogar. O barril se quebrou no chão em frente a ele, derramando o combustível por todo lado.
Brasas reluziram. Leo fechou os olhos, e Piper gritou:
— Não!
Uma coluna de fogo ergueu-se ao redor do garoto. Quando Leo abriu os olhos, ele estava banhado em chamas redemoinhando em seis metros no ar. Ma Gasket riu alto em deleito, mas Leo não se queimaria. O querosene extinguiu, e o fogo morreu em pequenos fragmentos ardentes no chão.
— Leo? — Piper ofegou.
Ma Gasket ficou pasma.
— Você está vivo? — Então ela deu aquele passo extra para frente, que a colocou exatamente onde Leo queria. — O que você é?
— O filho de Hefesto — Leo disse. — E eu lhe alertei que te destruiria com fogo.
Ele apontou um dedo para o ar e convocou todo o seu poder. Ele nunca tentara fazer algo tão direcionado e intenso — mas ele lançou uma rajada de chamas brancas e ardentes para a corrente que suspendia o motor sobre a cabeça da ciclope — direcionando para o elo que parecia mais fraco.
As chamas morreram. Nada aconteceu. Ma Gasket riu.
— Uma tentativa impressionante, filho de Hefesto. Se passaram vários seculos desde que vi um manipulador de fogo. Você dará um aperitivo forte!
A corrente estalou — aquele único elo fora aquecido além do seu ponto de tolerância — e o motor caiu, mortífero e silencioso.
— Eu acho que não — Leo disse.
Ma Gasket nem teve tempo de olhar para cima. Smash! Sem mais ciclopes — só uma pilha de pó sob um motor de cinco toneladas.
— Não é imune a motores, hein? — Leo disse. — Já era!
Então ele caiu aos joelhos, sua cabeça zumbindo. Depois de alguns minutos percebeu que Piper estava chamando o seu nome.
— Leo! Você está bem? Pode se mexer?
Ele tropeçou nos pés. Nunca tentara convocar tal intensidade de fogo antes, e aquilo havia lhe deixado completamente drenado.
Demorou um pouco de tempo para descer Piper das suas correntes. Então, juntos, eles baixaram Jason, que ainda estava inconsciente. Piper conseguiu escorrer um pouco de néctar na sua boca, e ele grunhiu. O inchaço na cabeça começou a diminuir. A sua cor voltou aos poucos ao normal.
— É, ele tem uma cabeça bem dura — Leo disse. — Acho que ele vai ficar bem.
— Graças a Deus — Piper suspirou. Então ela olhou para Leo com um pouco de medo. — Como você... o fogo... você sempre...?
Leo olhou para o chão.
— Sempre — ele disse. — Eu sou uma aberração perigosa. Desculpe, eu devia ter contado para vocês antes, mas...
— Desculpa? — Piper socou seu braço. Quando ele olhou para cima, ela estava sorrindo. — Aquilo foi incrível  Valdez! Você salvou nossas vidas. Por que está se desculpando?
Leo pestanejou. Ele começou a sorrir, mas seu alívio foi embora quando percebeu algo nos pés de Piper.
Um pó amarela — os restos pulverizados de um dos ciclopes, talvez Torque — estava se deslocando no chão como se uma brisa invisível estivesse a ajudasse a se reagrupar.
— Eles estão se formando de novo — Leo disse. — Olha.
Piper afastou-se daquilo.
— Não e possível. Annabeth me disse que os monstros se dissipam quando são mortos. Eles voltam ao Tártaro e não podem retornar por um longo tempo.
— Bom, ninguém falou isso à poeira — Leo observou enquanto o pó se amontoava numa pilha e, bem devagar, se espalhava formando braços e pernas.
— Ah, deus — Piper ficou pálida. — Bóreas disse algo sobre isso... sobre a terra revelando horrores. Quando os monstros já não estiverem mais no Tártaro e almas já não estiverem confinadas no Hades... Quanto tempo você acha que temos?
Leo pensou sobre o rosto que se formara no chão do lado de fora — a mulher adormecida que era definitivamente um horror da terra.
— Eu não sei — ele disse. — Mas precisamos sair daqui.

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