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O Herói Perdido - CAP. 23

.. domingo, 31 de março de 2013

Capítulo XXIII - Leo


LEO ESPEROU QUE O DRAGÃO não tivesse caído nos toaletes.
De todos os lugares para cair, uma fileira de banheiros químicos não teria sido sua primeira escolha. Uma dúzia de boxes azuis de plástico tinha sido instalada no jardim da fábrica, e Festus havia achatado todas elas. Felizmente, elas não eram usadas há muito tempo, e a bola de fogo que surgiu na queda incinerou quase tudo. Mesmo assim, algumas substâncias químicas bastante nojentas saíam do encanamento dos destroços  Leo tinha que passar por elas e tentar não respirar pelo nariz. Neve pesada estava caindo, mas a couraça do dragão ainda estava fervendo quente. E claro, aquilo não incomodou Leo.
Depois de alguns minutos escalando o corpo inanimado de Festus, Leo começou a irritar-se. O dragão estava perfeitamente bem. Sim, ele caíra do céu e pousara com um grande cabum, mas seu corpo não estava nem amassado. A bola de fogo aparentemente veio dos gases compostos dentro dos banheiros, e não do próprio dragão. As asas de Festus estavam intactas. Nada parecia quebrado. Não havia motivo para ter parado de funcionar.
— Não foi minha culpa — ele murmurou. — Festus, você está me fazendo parecer mal.
Então ele abriu o painel de controle na cabeça do dragão, e o coração de Leo afundou.
— Ah, Festus, o que é isso?
As engrenagens tinham congelado. Leo sabia que no dia anterior estava tudo perfeito. Ele trabalhara tanto para reparar os cabos corroídos, mas algo causou um congelamento instantâneo dentro do crânio do dragão, justo onde deveria ser quente demais para gelo se formar. O gelo fez com que a fiação se sobrecarregasse e torrasse o painel de controle. Ele não via motivo para que isso acontecesse. Certo, o dragão era velho, mas mesmo assim, não fazia sentido.
Ele podia recolocar os cabos. Aquele não era o problema. Mas o disco de controle chamuscado não era bom. As letras gregas e fotos esculpidas nas bordas, que provavelmente carregavam todos os tipos de magia, estavam manchadas e enegrecidas. A peça que Leo não poderia recolocar — e ela estava danificada. De novo.
Ele imaginou a voz de sua mãe: A maioria dos problemas parece pior do que é, mi amor. Para tudo há solução.
Sua mãe podia reparar quase tudo, mas Leo tinha muita certeza que ela nunca trabalhara num dragão mágico de metal de cinquenta anos de idade. Ele apertou os dentes e decidiu que tinha que tentar. Ele não iria andar de Detroit até Chicago numa tempestade de neve, e não seria responsável por fazer seus amigos fracassarem.
— Certo — murmurou, limpando a neve dos ombros. — Quero uma escovinha de cerdas de náilon, algumas luvas descartáveis e talvez uma lata daquele solvente aerossol de limpeza.
O cinto de ferramentas obedeceu. Leo não pôde deixar de sorrir enquanto tirava os objetos. Os bolsos do cinto tinham limites. Eles não lhe dariam qualquer coisa mágica, como a espada de Jason ou algo grande, como uma motosserra. Ele tentara pedir as duas coisas. E se ele pedisse muitas coisas de vez, o cinto precisaria de um tempo para se resfriar antes que pudesse funcionar novamente. Quanto mais complicado o pedido, mais tempo para resfriar. Mas algo pequeno e simples como os que você pode encontrar numa oficina — tudo que Leo precisava fazer era pedir.
Ele começou a limpar o disco de controle. Enquanto trabalhava, neve recobria o dragão frio. Leo tinha que parar de tempos em tempos para convocar fogo e derreter tudo, mas na maioria das vezes ele trabalhava como piloto automático, suas mãos trabalhando por si próprias enquanto seus pensamentos fluíam.
Leo não acreditava em como ele fora estupido agindo no palácio de Bóreas. Ele deveria ter calculado que uma família de deuses do inverno o odiaria a primeira vista. Filho do deus do fogo voando num dragão que solta fogo numa suite de gelo — e, talvez não fosse o melhor. Ainda assim, ele odiava se sentir rejeitado. Jason e Piper conseguiram visitar a sala do trono. Leo teve que esperar no salão com Cal, o semideus do hóquei e a cabeça dos maiores insultos.
Fogo é mau, Cal lhe disse.
Aquilo praticamente resumia. Leo sabia que ele não esconderia a verdade dos seus amigos por muito tempo. Desde o Acampamento Meio-Sangue, uma linha daquela Grande Profecia continuava voltando para ele: Em tempestade ou fogo, o mundo terá acabado.
E Leo era o garoto do fogo, o primeiro desde 1666, quando Londres havia queimado. Se ele contasse aos seus amigos o que ele realmente podia fazer — Ei, adivinha, galera? Eu posso destruir o mundo! — por que alguém iria lhe dar as boas-vindas no acampamento de novo? Leo teria que correr novamente. Mesmo conhecendo aquela história de cor, a ideia o deprimia.
E havia Quione. Maldição, aquela garota era linda. Leo sabia que agira como um idiota total, mas não pôde deixar de pensar nela. Tinha lavado suas roupas no serviço de lavanderia rápido do hotel — o que havia sido totalmente demais, a propósito. Ele penteou o cabelo — o que nunca era algo fácil — e até descobriu que o cinto de ferramentas podia fazer balas de menta, tudo na esperança de se aproximar dela.
Naturalmente, sem tal sorte.
Ser excluído era a história da sua vida — pelos seus parentes, casas de adoção, você escolhe. Atá na Escola da Vida Selvagem, Leo passara as últimas semanas se sentindo sobrando enquanto Jason e Piper, seus únicos amigos, se tornavam um casal. Ele estava feliz por eles e tudo mais, mas ainda assim o fazia se sentir como se não precisassem mais dele.
Quando ele descobriu que a vida inteira de Jason no colégio fora uma ilusão — um tipo de lapso de memória — Leo ficou secretamente animado. Era uma chance para recomeçar. Agora Jason e Piper estavam virando um casal novamente — que era óbvio pelo jeito que agiram no armazém agora pouco, como se quisessem conversar sem Leo por perto. O que ele esperava? Ele iria reanimar o homem estranho novamente. Quione só havia lhe dado a indiferença um pouco mais rápido que a maioria.
— Basta, Valdez — ele se repreendeu. — Ninguém vai ficar bajulando você só porque simplesmente você não é importante. Conserte o estúpido dragão.
Ele ficou tão envolvido com o trabalho que não sabia quanto tempo passara antes de ouvir a voz.
Você está errado, Leo.
Ele se atrapalhou com a escova e a deixou cair na cabeça do dragão. Ele se levantou, mas não pôde ver quem falava. Então ele olhou para o chão. Neve e esgoto químico dos toaletes, até o asfalto estava se deslocando como se virasse líquido. Uma área de três metros formou olhos, um nariz, e uma boca — o rosto gigante da mulher adormecida.
Ela não falou exatamente. Seus lábios não se mexiam. Mas Leo conseguia ouvir sua voz na cabeça, como se as vibrações estivesse vindo pelo chão, direto aos seus pés e repercutindo no seu esqueleto.
Eles precisam de você desesperadamente, ela disse. De certa maneira, você é o mais importante dos sete — como o disco de controle no cérebro do dragão. Sem você, o poder dos outros não significa nada. Eles nunca me alcançarão, nunca me pararão. E eu vou acordar completamente.
— Você — Leo estava tão mexido que não tinha certeza se falou em voz alta. Ele não ouvira aquela voz desde que tinha oito anos, mas era ela: a mulher de terra da oficina mecânica. — Você matou minha mãe.
O rosto se mexeu. A boca formou um sorriso sonolento, como se estivesse tendo um sonho agradável.
Ah, mas Leo. Eu sou sua mãe também — a Primeira Mãe. Não se oponha a mim. Parta agora. Deixe meu filho Porfírion se erguer e tornar-se rei, e eu irei aliviar sua carga. Você irá andar brilhantemente na terra.
Leo pegou a coisa mais próxima que pode encontrar — um assento de banheiro químico — e jogou no rosto.
— Me deixe em paz!
O assento do toalete afundou na terra líquida. Neve e esgoto ondularam, e o rosto dissolveu.
Leo olhou para o chão, esperando o rosto reaparecer. Mas não reapareceu. Leo quis pensar que imaginou isso. Então da direção da fábrica, ele ouviu um estrondo — como dois caminhões de lixo batendo juntos. Metal caiu e vergou, e o barulho ecoou pelo jardim. Instantaneamente Leo sabia que Jason e Piper estavam em apuros.
Parta agora, a voz ordenou.
— Provavelmente não — Leo grunhiu. — Quero o maior martelo que você tiver.
Ele colocou a mão no cinto de ferramentas e tirou um martelo de três quilos com uma cabeça de duas faces do tamanho de uma batata assada. Então ele pulou das costas do dragão e correu para o armazém.

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