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O Herói Perdido - CAP. 22

.. domingo, 31 de março de 2013

Capítulo XXII - Piper


PIPER DESPENCAVA PELO CÉU. Logo abaixo, ela via as luzes da cidade cintilando no amanhecer, e a cem metros dela, o corpo de um dragão de bronze girando fora de controle, suas asas moles, fogo tremeluzindo na sua boca como uma luminária conectada de forma errada.
Um corpo passou por ela — Leo, gritando e freneticamente agarrando nas nuvens.
— Isso não é legaaaaaal!
Ela tentou chamá-lo, mas ele já estava distante demais.
Em algum lugar acima dela, Jason gritou:
— Piper, você precisa planar! Estenda seus braços e pernas!
Era difícil controlar seu medo, mas ela fez o que ele disse e ganhou algum equilíbrio. Ela abriu-se como um
paraquedista, o vento abaixo dela como um sólido bloco de gelo. Então Jason estava ali, colocando seus braços ao redor da sua cintura.
Graças a Deus, Piper pensou. Mas parte dela também pensou: Ótimo. Segunda vez nessa semana que ele me abraça, e em ambas as vezes e porque eu estou mergulhando para a minha morte.
— Temos que pegar o Leo! — ela gritou.
A queda deles diminuiu conforme Jason controlava os ventos, mas eles se balançavam para cima e para baixo como se os ventos não quisessem cooperar.
— Vai ficar difícil — Jason alertou. — Segure-se!
Piper fechou os braços ao redor dele, e Jason se atirou para o chão. Piper provavelmente gritou, mas o som foi rompido da sua boca. Sua visão se desfocou. E então, tum! Eles bateram com força em outro corpo quente — Leo, ainda se mexendo e xingando.
— Pare de lutar! — Jason disse. — Sou eu!
— Meu dragão! — Leo gritou. — Você tem que salvar Festus!
Jason já estava lutando para mantê-los suspensos no ar, e Piper sabia que não havia chance de ajudar um dragão de metal de quinze toneladas. Porém, antes que pudesse dizer qualquer coisa a Leo, ouviu-se uma explosão abaixo deles. Uma bola de fogo subiu do fundo de um armazém e Leo soluçou:
— Festus!
O rosto de Jason se avermelhou com força enquanto ele tentava manter uma camada de ar abaixo deles, mas reduções de velocidade interruptas eram o melhor que ele podia controlar. Em vez de cair em queda livre, parecia que eles estavam saltando uma escadaria gigante, cem metros de cada vez, o que não estava favorecendo o estômago de Piper.
Enquanto eles bamboleavam e ziguezagueavam, Piper pôde distinguir detalhes do complexo de fábricas abaixo — armazéns, chaminés, cercas de arame farpado e estacionamentos alinhados com veículos cobertos de neve. Eles ainda estavam alto demais de forma que bater no chão os achataria num atropelamento na estrada — ou no céu — quando Jason gemeu.
— Eu não posso...
E eles caíram feito pedras.
Eles bateram no telhado do armazém maior e despencaram na escuridão.
Infelizmente, Piper tentou pousar de pé. Seus pés não gostavam disso. Dor se espalhou pelo seu tornozelo esquerdo enquanto ela caia sobre uma superfície fria de metal. Por alguns segundos ela não estava consciente de nada a não ser dor — dor tão forte que suas orelhas zumbiam e sua visão ficou vermelha.
Então ela ouviu a voz de Jason em algum lugar abaixo, ecoando pela construção.
— Piper! Onde está Piper?
— Ai, cara! — Leo gemeu. — Essas são as minhas costas! Não sou um sofá! Piper, onde você foi?
— Aqui — ela conseguiu falar, sua voz como um gemido.
Ela ouviu arrastar de pés e grunhidos, então pés dando passos no metal.
Sua visão começou a clarear. Ela estava numa passarela de metal que circulava o interior do armazém. Leo e Jason pousaram no térreo, e agora estavam subindo as escadas em direção a ela. Ela olhou ao seu pé, e uma onda de náusea se varreu sobre ela.
Seus dedos não deviam apontar para aquela direção, deviam?
Oh, deuses. Ela se forçou a desviar o olhar antes que vomitasse. Focar em mais alguma coisa. Qualquer coisa.
O buraco que eles fizeram no telhado era um teto solar maltrapilho seis metros acima. Como eles sobreviveram aquela queda, ela não tinha ideia. Pendurados no teto, algumas lâmpadas elétricas cintilavam debilmente, mas elas não faziam muito para iluminar o enorme espaço. Do lado de Piper, a parede de metal ondulada estava brasonada com a logomarca de uma companhia, mas ela estava quase completamente borrifada com grafite. Abaixo, no armazém escuro, pôde perceber grandes máquinas, braços robóticos, caminhões finalizados pela metade numa linha de montagem. O lugar parecia estar abandonado por anos.
Jason e Leo chegaram ao seu lado.
Leo começou a perguntar:
— Você está bem...? — Então ele ouviu o seu pé. — Ah não, você não está.
— Obrigada por confirmar — Piper gemeu.
— Você ficará bem — Jason disse, embora Piper pudesse ouvir a preocupação na voz. — Leo, você tem algum material de primeiros-socorros?
— Sim, sim, certo.
Ele escavou no seu cinto de ferramentas e tirou um monte de gazes e um rolo de fita ambos pareciam muito grandes para bolsos de cinto. Piper notara o cinto de ferramentas manhã anterior, mas ela não pensara em perguntar a Leo sobre ele. Não parecia nada especial — só um daqueles aventais de couro envoltórios com vários bolsos, como um ferreiro ou um carpinteiro pode usar. E parecia estar vazio.
— Como foi que... — Piper tentou se sentar, e encolheu-se. — Como você tirou essas coisas de um cinto vazio?
— Magia — Leo disse. — Não compreendi isso completamente, mas posso convocar ferramentas normais dos bolsos, e mais algumas outras coisas úteis. Ele colocou a mão em outro bolso e tirou uma pequena caixa. — Balas de menta?
Jason pegou as balas.
— Incrível, Leo. Agora, você pode consertar o pé dela?
— Eu sou um mecânico, cara. Talvez se ela fosse um carro... — Ele estalou os dedos. — Espera, o que era aquela comida dos deuses que te deram para comer no acampamento... comida Rambo?
— Ambrosia, cara — Piper disse com os dentes trincados. — Deve ter um pouco na minha mochila, se não estiver amassado.
Jason cuidadosamente tirou a mochila dos seus ombros. Ele vasculhou os suprimentos que as crianças de Afrodite colocaram para ela, e encontrou uma caixa cheia de pedaços esmagados, que pareciam barras de limão. Ele tirou um pedaço e entregou para ela.
O gosto não era nada como o que ela esperava. A fez lembrar-se da sopa de feijão preto do seu pai quando ela era uma garotinha. Ele costumava alimentá-la com isso quando ficasse doente. A memória a relaxou, embora isso a deixasse triste. A dor no tornozelo diminuiu.
— Mais — ela disse.
Jason franziu a testa.
— Piper, não deveríamos arriscar. Dizem que comer muito disso pode te transformas em cinzas. Eu acho que deveria tentar colocar seu pé no lugar.
O estômago de Piper tremeu.
— Você já fez isso antes?
— Sim... acho que sim.
Leo encontrou um pedaço velho de madeira e o quebrou no meio para fazer uma tala.
Então ele deixou a gaze e a fita prontas.
— Deixe a perna dela imóvel — Jason falou para ele. — Piper, isso vai doer.
Quando Jason endireitou o pé, Piper se retraiu tanto que socou Leo no braço, e ele gritou quase tanto quanto ela. Quando sua visão clareou e ela pôde respirar normalmente de novo, notou que seu pé estava apontando para a direção certa e que seu tornozelo estava enrolado com madeira, gaze e fita.
— Ai — ela disse.
— Caramba, rainha da beleza! — Leo esfregou o braço. — Ainda bem que meu rosto não estava ali.
— Desculpa — ela disse. — E não me chame de ‘rainha da beleza,’ ou eu vou te socar novamente.
— Vocês dois foram incríveis — Jason achou um cantil na mala de Piper e lhe deu um pouco de água. Depois de alguns minutos, seu estômago começou a acalmar.
Quando ela parou de gritar de dor, pode ouvir o vento bramindo do lado de fora. Flocos de neve flutuaram pelo buraco no telhado, e depois do encontro deles com Quione, neve era a última coisa que Piper queria ver.
— O que aconteceu com o dragão? — ela perguntou. — Onde estamos?
A expressão de Leo ficou pesada.
— Não sei o que houve com Festus. Ele simplesmente tremeu, como se tivesse batido em uma parede invisível e começou a cair.
Piper se lembrou do alerta de Encélado: Eu vou te mostrar como o seu espírito rebelde poder ser facilmente atirados ao chão. Ele conseguira acertá-los daquela distância?
Parecia impossível. Se ele fosse tão poderoso, porque precisaria que ela traísse seus amigos quando poderia simplesmente matá-los por si? E como o gigante poderia estar olhando ela numa tempestade de neve milhares de quilômetros de distância?
Leo apontou para a logomarca na parede.
— Parece que estamos... — Era difícil ler por trás do grafite, mas Piper conseguiu distinguir um grande olho vermelho com palavras escritas: MONOCLE MOTORS, LINHA DE MONTAGEM 1.
— É uma fábrica de carros fechada — Leo disse. — Acho que caímos em Detroit.
Piper ouvira sobre fábricas de carro fechadas em Detroit, então aquilo fez sentido. Mas parecia um lugar bastante depressivo para pousar.
— Estamos muito longe de Chicago?
Jason deu a ela o cantil.
— Acho que já percorremos mais da metade do caminho, vindo de Quebec. O problema é que sem o dragão, estamos presos viajando por terra.
— Sem chance — Leo disse. — Não é seguro.
Piper pensou sobre o jeito que o chão havia se grudado aos seus pés no sonho, e o que Rei Bóreas dissera sobre a terra revelar mais horrores.
— Ele tem razão. Além disso, eu não sei se posso andar. E três pessoas... Jason, você não pode voar todo esse trecho sozinho.
— Sem chance — Jason disse. — Leo, você tem certeza que o dragão não falhou? Digo, Festus é velho, e...
— E eu posso não ter consertado-o direito?
— Eu não disse isso — Jason protestou. — É só... talvez você possa consertá-lo.
— Eu não sei — Leo soou cabisbaixo. Ele tirou alguns parafusos dos seus bolsos e começou a mexer neles. — Tenho que descobrir onde ele caiu, se ainda continua inteiro.
— Foi minha culpa — Piper disse sem pensar.
Ela não podia mais aguentar isso. O segredo sobre seu pai estava aquecendo dentro dela como muita ambrosia. Se ela continuasse mentindo para os amigos, ela sentiria como se queimasse em cinzas.
— Piper — Jason disse gentilmente — você estava dormindo quando Festus quebrou. Não poderia ser sua culpa.
— É, você só está abalada — Leo concordou. Ele nem tentou fazer uma piada. — Você está com dor. Precisa descansar.
Ela queria contar tudo a eles, mas as palavras se prenderam na garganta. Eles estavam sendo muito gentis com ela. Contudo, se Encélado estivesse observando-os de algum jeito, dizer a coisa errada poderia matar o pai dela.
Leo se levantou.
— Olhe, hã, Jason, por que você não fica com ela, cara? Eu vou fazer uma busca por aí procurando Festus. Acho que ele caiu fora do armazém em algum lugar. Se eu puder encontrá-lo, talvez possa descobrir o que aconteceu e consertá-lo.
— É perigoso demais — Jason disse. — Você não deveria ir sozinho.
— Ah, eu tenho fita isolante e balas de menta. Ficarei bem — Leo disse, um pouco rápido demais, e Piper percebeu que ele estava muito mais abalado do que estava deixando parecer. — Vocês não fazem nada sem mim.
Leo colocou a mão no seu cinto de ferramentas mágico, tirou uma lanterna e desceu as escadas, deixando Piper e Jason sozinhos.
Jason sorriu para ela, embora ele parecesse um pouco nervoso. Era a mesma expressão que ele tinha no rosto depois de beijá-la pela primeira vez, no telhado do dormitório da Escola da Vida Selvagem — aquela pequena cicatriz bonita no seu lábio curvando numa meia-lua. A memória a deixou mais feliz. Então ela
lembrou que o beijo realmente nunca aconteceu.
— Você parece melhor — Jason ofereceu.
Piper não tinha certeza se ele falava do seu pé ou do fato de que ela não estava mais magicamente linda. Seus jeans estavam surrados da queda pelo telhado. Suas botas estavam respingadas de neve suja e derretida. Ela não sabia como seu rosto parecia, mas provavelmente estava horrível.
Por que isso importava? Ela nunca se importara com coisas assim antes. Ela pensou se era sua estúpida mãe, a deusa do amor, brincando com os seus pensamentos. Se Piper começasse a ter impulsos para ler revistas de moda, ela iria ter que encontrar Afrodite e conversar seriamente com ela.
Porém, ela decidiu focar no seu tornozelo. Enquanto ela não se mexesse, não havia a dor.
— Você fez um bom trabalho — ela falou para Jason. — Onde você aprendeu primeiros-socorros?
Ele deu de ombros.
— A mesma resposta de sempre. Eu não sei.
— Mas você está começando a recuperar algumas memórias, não está? Como aquela profecia em latim no acampamento ou aquele sonho com a loba.
— É instinto — ele disse. — Como se fosse um déjà vu. Já esqueceu uma palavra ou um nome que devia estar na ponta da sua língua, mas não está? É mais ou menos assim... só que com a minha vida toda.
Piper entendia o que ele estava dizendo. Os últimos três meses — uma vida que ela pensou que tinha um relacionamento com Jason — havia virado Névoa.
Um namorado que você na verdade nunca teve, Encálado dissera. Isso é mais importante que o seu próprio pai?
Ela deveria ter deixado sua boca fechada, mas disse a pergunta que estivera na sua mente desde ontem.
— Aquela foto no seu bolso — ela disse. — É alguém do seu passado?
Jason recuou.
— Desculpe-me — ela disse. — Não é da minha conta. Esqueça.
— Não, estáa tudo bem. — Suas feições relaxaram. — Só estou tentando descobrir as coisas. Seu nome é Thalia. Ela é minha irmã. Eu não me lembro de mais detalhes. Nem sei como fiquei sabendo que é minha irmã, mas... hã, por que você esta sorrindo?
— Nada — Piper tentou matar o sorriso. Não era uma namorada antiga. Ela se sentiu ridiculamente feliz. — Hã, é só... que bom que você lembrou. Annabeth me disse que ela se tornou uma Caçadora de Ártemis, certo?
Jason assentiu.
— Eu tenho a sensação de que devo encontrá-la. Hera me deixou aquela memória por um motivo. Tem algo a ver com essa missão. Mas... eu também tenho a sensação de que pode ser perigoso. Eu não sei se quero descobrir a verdade. É loucura?
— Não — Piper disse. — Não mesmo.
Ela olhou para a logomarca na parede: MONOCLE MOTORS e o olho vermelho. Algo naquela logomarca a incomodava.
Talvez fosse a ideia de Encélado a observando, segurando o seu pai para puxar a alavanca. Ela tinha que salvá-lo, mas como ela poderia trair os amigos?
— Jason — ela disse. — Falando sobre verdade, eu preciso te falar uma coisa... uma coisa sobre meu pai...
Ela não teve a chance de continuar. Em algum lugar abaixo, metal ressoou contra metal, como uma porta batendo. O som ecoou pelo armazém.
Jason se levantou. Ele tirou sua moeda e a lançou, pegando sua espada dourada no ar. Ele olhou para o parapeito.
— Leo? — ele chamou.
Sem resposta.
Ele agachou ao lado de Piper.
— Não gosto disso.
— Ele pode estar com problemas — Piper disse. — Vá checar.
— Não posso te deixar sozinha.
— Ficarei bem. — Ela se sentia aterrorizada, mas não iria admitir isso. Ela puxou Katoptris e tentou parecer confiante. — Se alguém chegar perto, eu espeto.
Jason hesitou.
— Eu vou deixar a mochila. Se eu não voltar em cinco minutos...
— Entro em pânico? — ela sugeriu.
Ele controlou um sorriso.
— Estou feliz que você tenha voltado ao normal. A maquiagem e o vestido eram muito mais intimidantes que a adaga.
— Vá logo, espertinho, antes que eu espete você.
— Espertinho?
Mesmo ofendido, Jason parecia bonito. Não era justo. Então ele foi para as escadas e desapareceu na escuridão.
Piper contou suas respirações, tentando medir o tempo que passava. Ela perdeu a conta em aproximadamente quarenta e três. Então algo no armazém fez bang! O eco morreu. O coração de Piper pesou, mas ela não gritou. Seus instintos lhe disseram que não era uma boa ideia.
Ela olhou para o seu tornozelo machucado. Não é como se eu pudesse correr. Então ela olhou novamente para o sinal da Monocle Motors. Uma pequena voz na sua cabeça a incomodou, alertando o perigo. Algo da mitologia grega...
Sua mão foi a mochila. Ela pegou os pedaços de ambrosia. Muito a queimaria, mas um pouco mais consertaria seu tornozelo?
Boom. O som estava mais perto dessa vez, diretamente abaixo dela. Ela comeu um pedaço grande de ambrosia e seu coração bateu mais rápido. Sua pele parecia febril.
Hesitantemente, ela flexionou o tornozelo na tala. Não sentia dor, nada. Ela cortou a fita com sua adaga e ouviu passos pesados nas escadas — como botas de metal.
Haviam se passado cinco minutos? Mais? Os passos não pareciam os de Jason, mas talvez ele estivesse carregando Leo. Finalmente, ela não pôde aguentar. Apertando sua adaga, ela gritou:
— Jason?
— Sim — ele disse da escuridão. — Estou subindo.
Definitivamente era a voz de Jason. Então por que todos os seus instintos diziam corra?
Com esforço, ela se levantou.
Os passos ficaram mais próximos.
— Está tudo bem — a voz de Jason prometeu.
No topo das escadas, um rosto apareceu da escuridão — um sorriso negro e horrível, um nariz esmagado, e um único olho injetado de sangue no meio da testa.
— Está tudo bem — o ciclope disse, numa perfeita imitação da voz de Jason. — Você chegou bem na hora do jantar.

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