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O Herói Perdido - CAP. 21

.. domingo, 31 de março de 2013

Capítulo XXI - Piper


PIPER NÃO RELAXOU ATÉ QUE as luzes da Cidade de Quebec tivessem ficado completamente para trás.
— Você foi incrível — Jason lhe disse.
Piper deveria ter ganhado o dia com o elogio. Mas tudo em que podia pensar era nos problemas adiante. Coisas más estão se agitando, Zetes os alertou. Ela sabia daquilo em primeira mão. Quanto mais eles se aproximassem do solstício, menos tempo Piper tinha para tomar sua decisão.
Ela falou para Jason em francês:
— Se você soubesse a verdade sobre mim, não acharia que fui tão incrível.
— O que disse? — ele perguntou.
— Disse que só falei com Bóreas. Não foi tão incrível.
Ela não virou para olhar, mas imaginou-o sorrindo.
— Ei — ele disse — você me salvou de entrar na coleção de heróis sub-zero de Quione. Eu te devo uma.
Aquela foi definitivamente a parte fácil, ela pensou. Não havia jeito de Piper deixar aquela bruxa do gelo ficar com Jason. O que mais perturbava Piper era o modo com que Bóreas mudou de forma, e por que ele os deixou ir. Tinha algo a ver com o passado de Jason, aquelas tatuagens em seu braço. Bóreas assumiu que Jason era algum tipo de romano, e romanos não se misturavam com gregos. Ela continuou esperando que Jason oferecesse uma explicação, mas ele claramente não queria falar sobre isso. Até agora, Piper conseguira evitar a sensação de Jason que ele não pertencia ao Acampamento Meio-Sangue. Obviamente ele era um semideus. Era claro que ele pertencia àquele lugar. Mas agora... e se ele fosse algo mais? E se ele realmente fosse um inimigo? Ela não podia suportar aquela ideia mais do que não podia suportar Quione.
Leo lhes passou alguns sanduíches da sua mala. Ele esteve quieto desde que lhe contaram o que aconteceu na sala do trono.
— Eu ainda não consigo acreditar — ele disse. — Quione parecia tão legal.
— Confie em mim, cara — Jason disse. — Neve pode ser bonita, mas de perto ela é fria e desagradável. Vamos encontrar um par para o baile de formatura melhor para você.
Piper sorriu, mas Leo não pareceu agradecido. Ele não falara muito sobre seu período no palácio, ou por que os boréadas o disseram ter farejado fogo nele. Piper teve a sensação de que ele estava escondendo alguma coisa. O que quer que fosse, o seu ânimo parecia estar afetando Festus, que grunhia e emitia fumaça enquanto tentava se manter quente no ar frio canadense. O Dragão Feliz não parecia tão feliz.
Eles comeram seus sanduíches enquanto voavam. Piper não tinha ideia de como Leo se abastecera com suprimentos, mas ele até lembrou-se de trazer lanches vegetarianos para ela. O sanduíche de queijo e abacate estava impressionante.
Ninguém falou nada. O que quer que encontrassem em Chicago, todos sabiam que Bóreas só os havia deixado ir porque calculou que eles já estavam numa missão suicida.
A lua e as estrelas surgiram no céu. Os olhos de Piper começaram a se sentir pesados. O encontro com Bóreas e seus filhos a assustara mais do que queria admitir. Agora que ela estava de estômago cheio, sua adrenalina estava diminuindo.
Aguente, cupcake! O Treinador Hedge teria gritado para ela. Não seja tão mole!
Piper estivera pensando no treinador desde que Bóreas mencionou que ele estava vivo. Ela nunca gostara do Treinador Hedge, mas ele havia saltado de um penhasco para salvar Leo e se sacrificado para protegê-los no naquela passarela. Ela agora percebia que sempre que o treinador a recriminava na escola, gritado com ela para correr mais rápido ou fazer mais flexões, ou até quando virava as costas e a deixava lutar suas
próprias batalhas com as garotas metidas, o velho homem-bode estivera tentando ajudá-la do seu próprio modo irritante — tentando prepará-la para a vida como semideusa.
Na passarela do Grand Canyon, o espírito da tempestade Dylan dissera algo sobre o treinador também: como ele havia sido exilado na Escola da Vida Selvagem porque estava ficando muito velho, como se fosse algum tipo de castigo. Piper se perguntou o que significava aquilo, e se isso explicava por que o treinador sempre estava tão mal disposto. Qualquer que fosse a verdade, agora que Piper sabia que Hedge estava vivo, ela sentia uma forte vontade de salvá-lo.
Não se precipite, ela repreendeu. Você tem problemas maiores. Essa viagem não terá um final feliz.
Ela era uma traidora, assim como Silena Beauregard. Era só uma questão de tempo antes que seus amigos descobrissem.
Ela ergueu os olhos para as estrelas e pensou sobre uma noite tempos atrás quando ela e seu pai haviam acampado na frente da casa do seu avô Tom. O vovô Tom morrera anos antes, mas seu pai mantivera sua casa em Oklahoma, pois era onde ele cresceu.
Eles haviam ficado lá por alguns dias, com a ideia de deixar o lugar arrumado para vender, apesar de Piper não saber quem iria querer comprar um chalé em estado precário com persianas ao invés de janelas e duas portas minúsculas que cheiravam a cigarro. A primeira noite fora tão quente e abafada — sem ar-condicionado em pleno verão — que seu pai sugeriu que eles dormissem do lado de fora.
Eles abriram seus sacos de dormir e ouviram cigarras zumbindo nas árvores. Piper apontou para as constelações sobre as quais estivera lendo — Hércules, a lira de Apolo, Sargitário.
Seu pai cruzou os braços atrás da cabeça. Vestindo sua camiseta e seus jeans antigos ele parecia apenas mais um cara de Tahlequah, Oklahoma, um Cherokee que nunca deixou terras tribais.
— O seu avô diria que esses padrões gregos são um bando de bobagem. Ele me disse que as estrelas eram criaturas com peles brilhantes, como ouriços mágicos. Uma vez, há muito tempo, alguns caçadores até capturaram alguns na floresta. Eles não estavam cientes do que fizeram até a noite, quando as criaturas das estrelas começaram a brilhar. Faíscas douradas voaram da pele deles, então os Cherokee libertaram eles de volta ao céu.
— Você acredita em ouriços mágicos? — Piper perguntou.
Seu pai riu.
— Eu acho que o vovô Tom era cheio de bobagem, também, assim como os gregos. Mas é um céu grande. Suponho que haja espaço para Hércules e os ouriços.
Eles se sentaram um pouco, até Piper ter coragem de fazer uma pergunta que estivera lhe intrigando.
— Pai, por que você não faz personagens nativo-americanos?
Na semana anterior, ele havia recusado vários milhões de dólares para interpretar Tonto num remake de Zorro. Piper ainda estava tentando entender o por que. Ele já interpretara todos os tipos de papeis — um professor latino numa escola de valentões em L.A., um elegante espião israelense num filme de ação e aventura, e até um terrorista sírio num filme de James Bond. E, naturalmente, ele sempre seria conhecido como o Rei de Esparta. Mas se o personagem era nativo-americano — não importava que tipo de papel fosse — o pai recusava.
Ele piscou para ela.
— Muito perto da realidade, Pipes. É mais fácil fingir que sou algo que não sou.
— Mas você não se cansa? Você não esteve sempre tentando, tipo, encontrar o personagem perfeito que pudesse mudar as opiniões das pessoas?
— Se á um personagem assim, Pipes — ele disse lamentavelmente — eu não o encontrei.
Ela olhou para as estrelas, tentando imaginá-las como ouriços brilhantes. Tudo que ela via eram as figuras  que conhecia — Hércules correndo pelo céu, no seu jeito para matar monstros. O pai estava provavelmente certo. Os gregos e os Cherokee eram igualmente loucos. As estrelas eram apenas bolas de fogo.
— Pai — ela disse — se você não gosta de ficar perto da realidade, por que estamos dormindo no jardim do vovô Tom?
Sua risada ecoou na noite silenciosa de Oklahoma.
— Acho que você me conhece muito bem, Pipes.
— Você não vai realmente vender esse lugar, vai?
— Não — ele suspirou. — É provável que não.
Piper piscou, sacudindo a cabeça para esquecer-se da memória. Ela percebeu que estava caindo no sono nas costas do dragão. Como o seu pai podia fingir ser tantas coisas que não era? Ela estava tentando fazer isso agora, e aquilo parecia ser um sacrifício terrível.
Talvez ela pudesse fingir um pouco mais. Ela podia sonhar em encontrar um caminho para salvar seu pai sem trair os amigos — mesmo se agora um final feliz parecesse tão possível quanto ouriços mágicos.
Ela se encostou no peito quente de Jason. Ele não reclamou. Assim que fechou os olhos, Piper dormiu.

Em seu sonho, ela estava de volta ao topo da montanha. A assustadora fogueira roxa lançava sombras
sobre as arvores. Os olhos de Piper arderam com a fumaça, e o chão estava tão quente que a sola das suas botas estavam grudenta.
Uma voz da escuridão ressoou:
— Você se esqueceu do seu dever.
Piper não podia vê-lo, mas era definitivamente o seu gigante menos favorito — o que se chamava Encélado. Ela olhou ao redor procurando algum sinal do seu pai, mas a estaca onde ele esteve acorrentado não estava mais lá.
— Onde ele está? — ela perguntou. — O que fez com ele?
A risada do gigante era como lava sibilando num vulcão.
— O corpo dele está bastante seguro, embora eu tenha medo de que a mente do pobre homem não possa tomar muito mais da minha companhia. Por algum motivo ele se encontra... perturbado. Você deve se apressar, agora, ou temo que haja pouco dele para salvar.
— Deixe-o ir! — ela gritou. — Pegue-me no lugar dele. Ele é só um mortal!
— Mas minha querida — o gigante assobiou — nós devemos provar nosso amor aos nossos pais. É o que eu estou fazendo. Mostre-me que você valoriza a vida do seu pai fazendo o que peço. Quem é mais importante, seu pai ou uma deusa desonesta que a usou, brincou com suas emoções e manipulou suas memórias? O que Hera é para você?
Piper começou a tremer. Raiva e medo ferviam dentro dela, tanto que mal podia falar.
— Você está me pedindo para trair os meus amigos.
— Infelizmente, minha querida, seus amigos estão destinados a morrer. A missão deles é impossível. Mesmo se vocês tiverem sucesso, você ouviu a profecia: libertar a ira de Hera significaria sua destruição. A única pergunta agora é: você morrerá com seus amigos ou viverá com seu pai?
A fogueira crepitou. Piper tentou recuar, mas seus pés estavam pesados. Ela percebeu que o chão estava lhe puxanso, agarrando-se as suas botas como areia molhada. Quando ela olhou para cima, uma chuva de faíscas roxas espalhou-se pelo céu, e o sol estava se erguendo no leste. Um fragmento de cidades brilhava no vale abaixo, e ao oeste, sobre uma linha de colinas reverberantes, ela viu um ponto de referência familiar subindo de um mar de névoa.
— Por que está me mostrando isso? — Piper perguntou. — Você está revelando onde está.
— Sim, você conhece esse lugar — o gigante disse. — Traga os seus amigos para cá em vez do verdadeiro destino deles, e irei negociar com eles. Ou ainda melhor, arranjar a morte deles antes de você chegar. Não me importo com isso. Apenas esteja no cume ao meio-dia no solstício, e você pode pegar seu pai e ir em paz.
— Não posso — Piper disse. — Você não pode me obrigar a...
— Trair aquele tolo do Valdez, que sempre te irritou e agora está escondendo segredos de você? Desistir de um namorado que na verdade nunca teve? Isso é mais importante que o seu próprio pai?
— Eu vou encontrar um jeito de derrotá-lo — Piper disse. — Vou salvar meu pai e meus amigos.
O gigante grunhiu nas sombras.
— Eu já fui orgulhoso também. Pensei que os deuses nunca poderiam me derrotar. Então eles atiraram um monte em cima de mim, me esmagaram no chão, onde lutei por éons, com a metade da consciência em dor. Aquilo me ensinou a ter paciência, garota. Aquilo me ensinou a não agir sem pensar. Mas agora estou voltando, com a ajuda da terra, que desperta. Sou apenas o primeiro. Meus irmãos se erguerão. Piper McLean, você precisa de uma lição de humildade. Eu vou te mostrar como o seu espirito rebelde poder ser facilmente trazido de volta ao chão.
O sonho terminou. E Piper acordou gritando, caindo em queda livre pelo ar.

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