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O Herói Perdido - CAP. 20

.. domingo, 31 de março de 2013

Capítulo XX - Jason


SE O HALL DE ENTRADA ERA FRIO, a sala do trono parecia mais um frigorífico. Neblina se suspendia no ar. Jason tremeu, sua respiração se condensou no ar frio. Ao longo das paredes, tapeçarias roxas mostravam cenas de florestas nevadas, montanhas estereis e geleiras. Acima, fitas de luz colorida — a aurora boreal — pulsavam no teto. Uma camada de neve cobria o chão, de forma que Jason tinha que pisar cuidadosamente. Ao redor do quarto havia esculturas de gelo de guerreiros em tamanho real — vestidos em armaduras gregas e medievais, alguns com roupas de camuflagem moderna — todos congelados em diferentes posições de ataque, espadas erguidas, revólveres destravados e carregados.
Pelo menos Jason achava que eram esculturas. Ele tentou passar entre dois lanceiros gregos, mas eles se moveram com uma velocidade surpreendente, suas juntas estalando e espalhando cristais de gelo enquanto cruzavam suas lanças para bloquear o caminho de Jason.
No outro lado do salão, a voz de um homem soou numa linguagem que parecia francês. A sala era tão comprida e nevoenta que Jason não pode ver o outro lado; mas o que quer que o homem tenha falado, os guardas de gelo descruzaram suas lanças.
— Está tudo bem — Quione disse. — Meu pai ordenou a eles que não matem vocês ainda.
— Ótimo — Jason disse.
Zetes o cutucou nas costas com a espada.
— Continue andando, Jason Junior.
— Por favor, não me chame assim.
— Meu pai não é um homem paciente — Zetes alertou — e a linda Piper, infelizmente, está perdendo o seu penteado mágico muito rápido. Mais tarde, talvez, possa emprestá-la algo da minha vasta coleção de produtos de cabelo.
— Obrigada — Piper grunhiu.
Eles continuaram andando, e a névoa finalmente se dissipou, revelando um homem num trono de gelo. Ele era forte e vestia um terno branco elegante que parecia coberto de neve, com asas roxo-escuras que se estendiam de cada lado. Seu longo cabelo e barba espessa eram encrustados com cristais de gelo, de forma que Jason não pôde dizer se seu cabelo era grisalho ou só estavam brancos por causa da neve. Suas sobrancelhas arqueadas o faziam parecer nervoso, mas seus olhos piscavam mais calorosamente do que os de sua filha — como se ele pudesse ter algum senso de humor por trás daquela aparente frieza. Jason esperava que sim.
— Bienvenu — o rei disse. — Je suis Bóreas le Roi. Et vous?
A deusa da neve Quione estava prestes a falar, mas Piper deu um passo a frente e fez uma reverência.
— Votre Majesté — ela disse — je suis Piper McLean. Et c’est Jason, fils de Zeus.
O rei sorriu com agradável surpresa.
— Vous parlez français? Très bien!
— Piper, você fala francês? — Jason perguntou.
Piper franziu a testa.
— Não. Por quê?
— Você acabou de falar em francês.
Piper pestanejou.
— Falei? — O rei disse algo mais, e Piper assentiu. — Oui, Votre Majesté.
O rei riu e bateu palmas, obviamente encantado. Ele disse mais algumas frases então moveu a mão rapidamente em direção a filha como se a mandasse ir embora. Quione pareceu ofendida.
— O rei diz...
— Ele diz que eu sou filha de Afrodite — Piper interrompeu — então posso falar fluentemente francês, que é a língua do amor. Eu não tinha ideia. Vossa majestade diz que Quione não terá que traduzir agora.
Atrás deles, Zetes bufou, e Quione lhe atirou um olhar assassino. Ela se curvou duramente ao pai e deu um passo para trás.
O deus julgou Jason, e Jason decidiu que seria uma boa ideia se curvar.
— Vossa Majestade, eu sou Jason Grace. Obrigado por, hã, não nos matar. Eu posso perguntar... por que um deus grego fala francês?
Piper teve outro diálogo com o rei.
— Ele fala a língua do país que o acolheu — Piper traduziu. — Diz que todos os deuses fazem isso. A maioria dos deuses gregos fala inglês porque agora residem nos Estados Unidos, mas Bóreas nunca foi bem-vindo no reino deles. Seu domínio sempre foi mais ao norte. Ele gosta de viver em Quebec, então ele fala francês.
O rei disse mais alguma coisa, e Piper ficou pálida.
— O rei diz... — Ela vacilou. — Ele diz...
— Ah, me permita — Quione disse. — Meu pai diz que tem ordens para matar vocês. Eu não mencionei isso mais cedo?
Jason ficou tenso. O rei ainda estava sorrindo bondosamente, como se tivesse entregado boas noticias.
— Nos matar? — Jason disse. — Por quê?
— Porque — o rei disse, num inglês severamente acentuado — o meu, lorde Éolo, ordenou.
Bóreas se levantou. Ele desceu do seu trono e dobrou as asas nas costas. Conforme se aproximava, Quione e Zetes se curvaram. Jason e Piper seguiram o exemplo.
— Devo falar na sua língua — Bóreas disse — uma vez que Piper McLean me honrou falando na minha. Toujours, eu tive simpatia pelos filhos de Afrodite. Quanto a você, Jason Grace, meu mestre Éolo não me deixaria matar um filho do Lorde Zeus... sem primeiro o deixar falar.
A moeda de ouro de Jason pareceu ficar mais pesada no seu bolso. Se ele fosse forçado a lutar, não queria nem pensar em suas chances. Demoraria dois segundos, pelo menos, para convocar sua espada. Então ele estaria encarando um deus, dois dos seus filhos, e um exército de guerreiros congelados a vácuo.
— Éolo é o mestre dos ventos, certo? — Jason perguntou. — Por que ele iria nos querer mortos?
— Vocês são semideuses — Bóreas disse, como se isso explicasse tudo. — O trabalho de Éolo é conter os ventos, e semideuses sempre causaram a ele muitas dores de cabeça. Eles lhe pedem por favores. Desatrelam os ventos e causam caos. Mas o insulto final foi a batalha com Tifão no verão passado...
Bóreas acenou com a mão, e uma superfície de gelo como uma TV de tela plana apareceu no ar. Imagens de uma batalha tremeluziram pela superfície — um gigante enrolado em nuvens de tempestade, prosseguindo com dificuldade através de um rio em direção a Manhattan. Figuras minúsculas e brilhantes — os deuses, Jason pensou — se aglomeravam ao redor dele como vespas raivosas, golpeando o monstro com raios e fogo. Finalmente o rio entrou em erupção num redemoinho maciço, e a forma fumegante caiu sob as ondas e desapareceu.
— O gigante da tempestade, Tifão — Bóreas explicou. — Na primeira vez que os deuses o derrotaram, éons atrás, ele não morreu discretamente. Sua morte libertou inúmeros espíritos da tempestade, ventos selvagens que respondiam a ninguém. Era o trabalho de Éolo ir atrás de todos e aprisioná-los na sua fortaleza. Os outros deuses não ajudaram. Nem se desculparam pela inconveniência. Demorou séculos para Éolo ir atrás de todos os espíritos da tempestade, e naturalmente isso o irritou. Então  verão passado, Tifão foi derrotado novamente...
— E sua morte libertou outra onda de ventus — Jason supôs. — O que fez Éolo ficar mais furioso ainda.
— C’est vrai — Bóreas concordou.
— Mas, Vossa Majestade — Piper disse — os deuses não tinham escolha a não ser batalhar com Tifão. Ele ia destruir o Olimpo! Além disso, por que punir semideuses por isso?
O rei deu de ombros.
— Éolo não pode libertar sua fúria nos deuses. Eles são seus mestres, e muito poderosos. Então ele fica impassível com semideuses que os ajudaram na guerra. Ele emitiu ordens para nós: semideuses que vierem para nós buscando ajuda não serão mais tolerados. Estamos para esmagar suas pequenos rostos mortais.
Houve um silêncio desconfortável.
— Isso soa... extremo — Jason arriscou. — Mas você não vai esmagar nossos rostos ainda, certo? Você ira nos ouvir primeiro, porque quando ouvir sobre nossa missão...
— Sim, sim — o rei concordou. — Entenda, Éolo também disse que um filho de Zeus poderia procurar minha ajuda, e se isso acontecesse, eu deveria ouvi-lo antes de lhe destruir, pois você poderia... como foi que ele colocou?... tornar nossas vidas muito interessantes. Eu sou apenas obrigado a ouvir, no entanto. Depois disso, estou livre para julgar como achar justo. Mas eu vou ouvir primeiro. Quione espera isso também. Pode ser que não matemos vocês.
Jason sentiu como se quase pudesse respirar novamente.
— Que bom. Obrigado.
— Não me agradeça — Bóreas sorriu. — Há várias formas de você tornar nossas vidas interessantes. às vezes, mantemos semideuses para nosso entretenimento, como você pode ver.
Ele gesticulou em volta do quarto para as várias estátuas de gelo.
Piper fez um barulho sufocado.
— Você quer dizer... são todos semideuses? Semideuses congelados? Estão vivos?
— Uma pergunta interessante — Bóreas admitiu, como se isso nunca tivesse ocorrido a ele antes. — Eles não se mexem a menos que estejam obedecendo minhas ordens. No resto do tempo, estão meramente congelados. A menos que derretam, suponho, o que seria muita bagunça.
Quione foi para trás de Jason e colocou seus dedos frios em seu pescoço.
— Meu pai me dá presentes maravilhosos — ela murmurou no seu ouvido. — Junte-se a nossa corte. Talvez eu deixe seus amigos irem.
— O que? — Zetes rompeu. — Se Quione ficar com esse, então eu mereço a garota. Quione sempre consegue mais presentes!
— Crianças! — Bóreas disse firmemente. — Nossos visitantes vão achar que vocês são mimados! Além disso, pra que tanta pressa? Nem ouvimos a história do semideus ainda. Então decidiremos o que fazer com eles. Por favor, Jason Grace, nos entretenha.
Jason sentiu que sua mente se apagava. Ele não olhou para Piper, pois tinha medo que pudesse se perder completamente. Ele os colocou nessa, e agora eles iriam morrer — ou pior, seriam diversão para os filhos de Bóreas e acabariam congelados para sempre na sua sala do trono, lentamente corroendo-se de frio.
Quione murmurou algo e acariciou seu pescoço. Jason não planejou isso, mas eletricidade faiscou pela sua pele. Houve um pop alto, e Quione voou para trás, derrapando pelo chão.
Zetes riu.
— Que legal! Estou contente de que você tenha feito isso, mesmo que eu tenha que matar você agora.
Por um momento, Quione ficou muito aturdida para reagir. Então o ar ao redor dela começou a redemoinhar com uma micro nevasca.
— Como você ousa...
— Pare — Jason ordenou, com toda a força que podia reunir. — Você não vai nos matar. E não vai nos manter aqui. Estamos numa missão para a própria rainha dos deuses, e a menos que queira Hera explodindo as suas portas, você irá nos deixar ir.
Ele soou muito mais confiante do que se sentia, mas chamou a atenção deles. A nevasca de Quione redemoinhou até parar. Zetes baixou a espada. Eles olhavam em dúvida para o pai.
— Humm — Bóreas disse. Seus olhos cintilaram, mas Jason não soube se era de raiva ou diversão. — Um filho de Zeus, favorito de Hera? Essa é definitivamente uma novidade. Conte-nos sua história.
Jason não queria estragar tudo. Ele não estava esperando ter a chance de falar, e agora que podia, sua voz o abandonou.
Piper o salvou.
— Vossa Majestade. — Ela fez uma reverência, uma grande reverência, considerando ter sua vida por um fio. Ela contou para Bóreas toda a história, desde o Grand Canyon até a profecia, muito melhor e mais rápido do que Jason teria feito.
— Tudo o que pedimos é orientação — Piper concluiu. — Esses espíritos da tempestade nos atacaram, e estão trabalhando para alguma mestra do mal. Se os encontrarmos, talvez possamos encontrar Hera.
O rei alisou os cristais de gelo na sua barba. Do lado de fora da janela, a noite havia caído, e a única luz vinha da aurora boreal acima, jogando vermelho e azul em tudo.
— Eu conheço esses espíritos da tempestade — Bóreas disse. — Sei onde estão e também onde está seu prisioneiro.
— Você quer dizer o treinador Hedge? — Jason perguntou. — Ele está vivo?
Bóreas deixou a pergunta de lado.
— Por enquanto. Mas quem controla esses espíritos da tempestade... Seria loucura opor-se a ela. Seria melhor vocês ficarem aqui como estátuas de gelo.
— Hera está em apuros — Jason disse. — Em três dias ela será... não sei... consumida, destruída, alguma coisa assim. E um gigante irá se erguer.
— Sim — Bóreas concordou. Era imaginação de Jason, ou ele atirou um olhar raivoso a Quione? — Várias coisas horríveis estão acordando. Até meus filhos não me contam as notícias que deviam. A Grande Comoção de monstros que começou com Cronos... seu pai, Zeus, foi bobo ao acreditar que isso acabaria quando os titãs fossem derrotados. Mas como foi antes será agora. A batalha final ainda está por vir, e aquele que acordará é mais terrível que qualquer titã. Espíritos da tempestade... esses serão só o começo  A Terra tem muito mais horrores para revelar. Quando os monstros não permanecerem mais no Tártaro e as almas não estiverem mais confinadas no Hades... O Olimpo tem uma boa razão para temer.
Jason não tinha certeza do que tudo isso significava, mas ele não gostava da maneira como Quione estava sorrindo — como se isso fosse sua definição de "diversão".
— Então você irá nos ajudar? — Jason perguntou ao rei.
Bóreas franziu a testa.
— Eu não disse isso.
— Por favor, Vossa Majestade — Piper disse.
Os olhos de todos viraram para ela. Piper podia estar morrendo de medo, mas ela parecia bonita e confiante — e não tinha nada a ver com a benção de Afrodite. Ela parecia si mesma novamente, com velhas roupas de viagem, cabelo bagunçado e sem maquiagem. Mas ela quase brilhou com calor naquela sala do trono fria.
— Se você nos contar onde estão os espíritos da tempestade, podemos capturá-los e trazê-los para Éolo. Você ficaria bem frente ao seu chefe. Éolo pode nos perdoar e a outros semideuses. Poderíamos até resgatar Gleeson Hedge. Todo o mundo ganha.
— Ela está linda — Zetes murmurou. — Digo, ela está certa.
— Pai, não a ouça — Quione disse. — Ela é uma filha de Afrodite. Como ousa jogar charme para um deus? Congele-a agora!
Bóreas considerou isso. Jason escorregou a mão para o bolso e se preparou para tirar a moeda de ouro. Se as coisas dessem errado, ele teria que se mover rapidamente.
O movimento chamou a atenção de Bóreas.
— O que é isso no seu antebraço, semideus?
Jason não havia percebido que a manga do seu casaco estava puxada para cima, revelando parte de sua tatuagem. Relutantemente, ele mostrou a Bóreas suas marcas.
Os olhos do deus se arregalaram. Quione sibilou e recuou.
Então Bóreas fez algo inesperado. Ele riu tão alto que um pedaço de gelo se soltou do teto, caindo próximo ao seu trono. A forma do deus começou a tremeluzir. Sua barba desapareceu. Ele cresceu e ficou mais magro, suas roupas mudaram para uma toga romana, alinhada com dignidade real. Sua cabeça ganhou uma coroa de louros congelada, e um gládio — uma espada romana como a de Jason — surgiu ao seu lado.
— Áquilo — Jason falou, embora de onde ele conseguiu nome romano do deus, ele não tivesse ideia.
O deus inclinou a cabeça.
— Você me reconhece melhor nessa forma, não é? E você ainda diz que veio do Acampamento Meio-Sangue?
Jason mudou o peso do corpo de um pé ao outro.
— Hã... sim, Vossa Majestade.
— E Hera te enviou aqui... — Os olhos do deus do inverno estavam cheios de hilaridade. — Entendo agora. Ah, ela joga um jogo perigoso. Bravo, mas perigoso! Não me admira que o Olimpo esteja fechado. Eles devem temer esse jogo arriscado que ela escolheu.
— Jason — Piper disse nervosamente — por que Bóreas mudou de forma? A toga, a coroa. O que está acontecendo?
— É a sua forma romana — Jason disse. — Mas o que está acontecendo... eu não sei.
O deus riu.
— Não, tenho certeza que não. Deve ser muito interessante observar.
— Significa que você vai nos deixar partir? — Piper perguntou.
— Minha querida — Bóreas disse — não há motivo para matar vocês. Se o plano de Hera falhar, o que eu acho que irá acontecer, vocês destruirão um ao outro. Éolo nunca terá que se preocupar com semideuses novamente.
Jason sentiu com se os dedos frios de Quione estivessem no seu pescoço novamente, mas não era ela — era apenas a sensação de que Bóreas tinha razão. Aquela sensação de que tudo estava errado que perturbara Jason desde que ele chegou no Acampamento Meio-Sangue, e o comentário de Quíron sobre sua chegada ser desastrosa — Bóreas sabia o que aquilo significava.
— Suponho que você não possa explicar nada, certo? — Jason perguntou.
— Ah, nem pensar! Não sou eu que irei interferir no plano de Hera. Não me admira que ela pegou sua memória — Bóreas riu, aparentemente ainda tendo um momento incrível imaginando semideuses rasgando um ao outro. — Você sabe, eu tenho uma reputação como um deus do vento útil. Ao contrário dos meus irmãos  eu fui conhecido por me apaixonar por mortais. Porque, meus filhos Zetes e Calais começaram como semideuses...
— O que explica porque eles são idiotas — Quione grunhiu.
— Pare com isso! — Zetes respondeu bruscamente. — Só porque você nasceu uma deusa completa...
— Vocês dois, congelados! — Bóreas ordenou. Aparentemente, aquela palavra carregava muito peso na família  pois os dois irmãos ficaram absolutamente imóveis. — Agora, como eu estava dizendo, tenho uma boa reputação, mas é raro que Bóreas tenha um papel importante nos negócios dos deuses. Eu me sinto no meu palácio, na beira da civilização, e muito raramente tenho animações. Porque, até aquele idiota do Nótus, o Vento Sul, tem férias de primavera. O que eu recebo? Um festival de inverno com habitantes de Quebec nus rolando pela neve!
— Eu gosto do festival de inverno — Zetes murmurou.
— Minha decisão — Bóreas vociferou — é que agora eu tenho a chance de ser o centro. Ah, sim, eu deixarei que vocês sigam com essa missão. Vocês encontrarão seus espíritos da tempestade na cidade tempestuosa, é claro. Chicago...
— Pai! — Quione protestou.
Bóreas ignorou a filha.
— Se puderem capturar os ventos, poderão conseguir entrada segura na corte de Éolo. Se por algum milagre saírem vivos, digam a ele que capturaram os ventos sob minhas ordens.
— Ok — Jason disse. — Então, é em Chicago que encontraremos essa senhora que está controlando os ventos? Foi ela quem pegou Hera numa armadilha?
— Ah — Bóreas sorriu. — Essas são duas perguntas diferentes, filho de Júpiter.
Júpiter, Jason notou. Antes, ele me chamava de filho de Zeus.
— Aquela que controla os ventos — Bóreas continuou — sim, você irá encontrá-la em Chicago. Mas ela é só uma serva, uma serva que adoraria destruí-lo. Se você tiver sucesso com ela e conseguir pegar os ventos, poderá ir a Éolo. Só ele tem conhecimento de todos os ventos da terra. Consequentemente, todos os segredos chegam à sua fortaleza. Se alguém pode lhes dizer onde Hera está aprisionada, esse é Éolo. Quanto a quem vocês irão encontrar quando finalmente encontrarem a prisão de Hera, sinceramente, se eu lhes contasse isso, vocês implorariam para eu lhes congelar.
— Pai — Quione protestou — você não pode simplesmente deixá-los...
— Eu posso fazer o que quiser — ele disse, sua voz endurecendo. — Ainda sou o mestre aqui, não sou?
Do jeito que Bóreas olhou para sua filha, era óbvio que eles tinham alguma discussão em andamento. Os olhos de Quione brilharam em raiva, mas ela apertou os dentes.
— Como você quiser, Pai.
— Agora vão, semideuses — Bóreas disse — antes que eu mude de ideia. Zetes, acompanhe-os até a entrada.
Todos se curvaram, e o deus do Vento Norte se dissolveu em névoa.

De volta ao hall de entrada, Cal e Leo estavam esperando por eles. Leo parecia morto de frio, mas ileso. Ele até estava limpo, e suas roupas pareciam recentemente lavadas, como se tivesse usado o serviço de lavanderia do hotel. Festus, o dragão, estava de volta à sua forma normal, soprando fogo sobre suas estruturas para se manter descongelado.
Conforme Quione os levava para as escadas, Jason notou que os olhos de Leo a seguiam. Leo começou a pentear o cabelo para trás com as mãos. Ops, Jason pensou. Ele fez um lembrete mental de alertar a Leo sobre a deusa do gelo depois. Ela não era alguém para se apaixonar.
No último degrau, Quione virou para Piper.
— Você enganou meu pai, garota. Mas não a mim. Ainda não terminamos. E você  Jason Grace, logo será uma estátua na sala do trono muito em breve.
— Bóreas tem razão — Jason disse. — Você é uma menina mimada. Vejo você por ai, princesa do gelo.
Os olhos de Quione cintilaram em branco puro. Por um momento, ela pareceu perder as palavras. Subiu correndo as escadas. Na metade do caminho acima, ela virou uma nevasca e desapareceu.
— Tome cuidado — Zetes alertou. — Ela nunca esquece um insulto.
Cal grunhiu, concordando.
— Irmã má.
— Ela é a deusa da neve — Jason disse. — O que vai fazer, jogar bolas de neve na gente?
Mas assim que ele disse isso, Jason teve a sensação de que Quione poderia fazer coisas muito piores.
Leo pareceu devastado.
— O que aconteceu lá em cima? Você a deixou nervosa? Ela está nervosa comigo também?  Gente, ela era meu par no baile de formatura!
— Vamos explicar depois — Piper prometeu, mas quando ela olhou para Jason, indicou que ele deveria explicar tudo.
O que havia acontecido lá em cima? Jason não tinha certeza. Bóreas tinha virado Áquilo, sua forma romana, como se a presença de Jason o deixasse um tanto esquizofrênico.
A ideia de que Jason fora mandado para o Acampamento Meio-Sangue parecia divertir o deus, mas Bóreas/Áquilo não os havia deixado ir por bondade. Animação cruel dançou em seus olhos, como se eles acabasses de apostar numa briga de cães.
Vocês destruirão uns aos outros, ele disse com deleito. Éolo nunca mais terá que se preocupar com semideuses novamente.
Jason desviou os olhos de Piper, tentando não mostrar a ela como ele estava desanimado.
— Sim — ele concordou — vamos explicar depois.
— Tenha cuidado, linda garota — Zetes disse. — Os ventos entre aqui e Chicago são inconstantes. Várias outras coisas más estão se agitando. Sinto muito por você não ficar. Você seria uma estátua de gelo adorável, onde eu poderia verificar meu reflexo.
— Obrigada — Piper disse. — Mas eu ia preferir jogar hóquei com Cal.
— Hóquei? — Os olhos de Cal se iluminaram.
— Brincadeira — Piper disse. — E os espíritos da tempestade não serão nosso pior problema, certo?
— Ah, não — Zetes concordou. — Algo mais. Algo pior.
— Pio — Cal ecoou.
— Você pode me contar? — Piper lhe deu um sorriso.
Dessa vez, o charme não funcionou. Os boréadas alados balançaram a cabeça em uníssono. As portas do hangar se abriram numa noite congelante e estrelada, e o dragão Festus bateu as patas, ansioso para voar.
— Pergunte para Éolo o que é pior — Zetes disse obscuramente. — Ele sabe. Boa sorte.
Ele quase soou como se importasse com o que acontecesse a eles, mesmo que alguns minutos antes ele quisesse transformar Piper numa escultura de gelo.
Cal bateu de leve no ombro de Leo.
— Não seja destruído — ele disse, o que provavelmente foi a maior frase que ele já pronunciou. — Próxima vez... hóquei. Pizza.
— Vamos, gente — Jason olhou para a escuridão. Ele estava ansioso para sair daquela suíte gelada, mas tinha uma sensação que era o lugar mais hospitaleiro que eles veriam por um tempo. — Vamos para Chicago e tentar não nos destruir.

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