O Herói Perdido - CAP. 13

Capítulo XIII - Jason


JASON SONHOU COM LOBOS.
Ele estava de pé numa clareira, no meio de uma floresta de sequoias. Na frente dele estavam as ruínas de uma mansão de pedra. Nuvens cinza e baixas misturavam-se com a névoa do chão, e havia uma chuva fria e fina no ar. Um bando de grandes animais ferozes e cinzentos andava ao redor dele, roçando nas suas pernas, rosnando e mostrando os dentes. Eles gentilmente o conduziam às ruínas.
Jason não tinha desejo de virar o maior biscoito de cachorros do mundo, então decidiu fazer o que eles queriam.
O chão molhado chapinhava sob suas botas enquanto ele caminhava. Chaminés de pedra, que não estavam mais ligadas a outra estrutura, erguiam-se como totens. A casa devia ter sido enorme algum dia, feita com sólidas paredes de madeira e um telhado alto com um cata-vento, mas agora nada restava a não ser seu esqueleto de pedra.
Jason passou sob uma porta desintegrada e achou-se num tipo de pátio. Em frente a ele havia uma piscina vazia, grande e retangular. Jason não pôde calcular sua profundidade, pois estava coberta de névoa. Uma trilha suja circundava a piscina, e as paredes irregulares da casa estavam do outro lado. Lobos passavam sob a arcada de pedra vulcânica, vermelha e dura.
Na extremidade da piscina sentava uma loba gigante, alguns metros mais alta que Jason. Seus olhos brilhavam como prata na neblina, e seu pelo era da mesma cor de chocolate avermelhado das rochas.
— Eu conheço esse lugar — disse Jason.
A loba reparou nele. Ela não falou exatamente, mas Jason pôde entendê-la. Os movimentos das orelhas e dos bigodes, o brilho dos olhos, o jeito que ela curvava os lábios — tudo fazia parte da sua linguagem.
Naturalmente, a loba disse. Você começou sua jornada aqui, ainda filhote. Agora você deve encontrar seu caminho de volta. Uma nova missão, um novo começo.
— Isso não é justo — Jason disse. Mas assim que falou isso, ele soube que não havia sentido se queixar com a loba.
Lobos não sentiam simpatia. Eles nunca esperavam justiça. A loba disse: Conquistar ou morrer. Esse é sempre o nosso caminho.
Jason queria protestar, dizer que não podia conquistar se não soubesse quem era ou para onde devia ir. Mas ele conhecia essa loba. Seu nome era Lupa, a loba-mãe, a maior da sua espécie. Tempos atrás ela o encontrara nesse lugar, o protegera, o alimentora, o escolhera, mas se Jason mostrasse fraqueza, ela iria rasgá-lo em pedaços. Em vez de ser seu filhote, ele iria se tornar o seu jantar. No mundo dos lobos, fraqueza não era uma opção.
— Você pode me guiar? — Jason perguntou.
Lupa fez um barulho no fundo de sua garganta e a névoa na piscina se dissolveu.
A princípio Jason não tinha certeza do que via. Nas extremidades opostas da piscina, duas torres escuras em espiral surgiam do chão de cimento como se fossem brocas de máquinas de escavar túneis saindo à superfície. Jason não podia dizer se as espirais eram feitas de rocha ou de parreiras petrificadas, mas elas formavam grossos tentáculos que se uniam no topo. Cada espiral tinha aproximadamente um metro e meio de altura, mas não eram idênticas. A mais próxima de Jason era mais escura e parecia como uma massa sólida, seus tentáculos fundidos juntos. Enquanto ele observava, a torre se ergueu um pouco mais da terra, ficando mais grossa.
Na outra ponta da piscina, onde estava Lupa, os tentáculos da segunda torre estavam mais abertos, como as barras de uma cela. Dentro, Jason podia ver vagamente uma figura enevoada lutando.
— Hera — Jason disse.
A loba rosnou em concordância. Os outros lobos rodearam a piscina, seus pelos eriçados nas costas enquanto rosnavam para as espirais.
A inimiga escolheu esse lugar para acordar seu filho mais poderoso, o rei gigante, disse Lupa. É o nosso lugar sagrado, onde semideuses são reclamados... um lugar de vida ou morte. A casa queimada. A casa do lobo. É uma abominação. Você deve pará-la.
— Pará-la? — Jason estava confuso. — Você quer dizer deter Hera?
A loba rangeu os dentes impacientemente.
Use seus seus sentidos, filhote. Eu não me importo com Juno, mas se ela cair, nossa inimiga irá se erguer. E esse será o fim para todos nós. Você conhece esse lugar. Você pode encontrá-lo novamente. Limpe nossa casa. Acabe com tudo isso antes que seja tarde demais.
A torre mais escura cresceu um pouco mais, como o bulbo de alguma flor horrível. Jason sentiu que se aquilo abrisse, libertaria algo que ele não queria encontrar.
— Quem sou eu? — Jason perguntou a loba. — Pelo menos me diga isso.
Lobos não tem muito senso de humor, mas Jason podia dizer que a pergunta divertiu Lupa, como se Jason fosse um filhote tentando colocar suas garras para fora, fingindo ser o alfa.
Você é nossa graça salvadora, como sempre. A loba curvou o lábio, como se acabasse de fazer uma piada esperta. Não falhe, filho de Júpiter.