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O Herói Perdido - CAP. 1

.. domingo, 31 de março de 2013

Capítulo I - Jason


ANTES MESMO DE SER ELETROCUTADO, Jason estava tendo um dia péssimo.
Ele acordou no banco de trás de um ônibus escolar, sem ter certeza de onde estava, segurando a mão de uma garota que ele não conhecia. Essa não era a parte péssima. A menina era bonita, mas ele não sabia quem ela era ou o que ela estava fazendo ali. Ele se sentou e esfregou os olhos, tentando pensar.
Umas poucas dúzias de crianças espalhavam-se pelos bancos em frente ao dele, escutando música em seus iPods, conversando, ou dormindo. Todos eles pareciam ter sua idade... Quinze? Dezesseis? Ok, isso era assustador. Ele não sabia sua própria idade.
O ônibus trafegava por uma estrada esburacada. Do lado de fora das janelas via-se o deserto, debaixo de um brilhante céu azul. Jason estava certo que ele não morava no deserto. Ele tentou pensar novamente... a ultima coisa que ele lembrava...
A garota apertou sua mão.
— Jason, você está bem?
Ela usava jeans desbotados, botas de caminhada, e uma jaqueta de snowboard. Seu cabelo castanho-chocolate era cortado de forma desigual, com os lados trançados para baixo. Ela não usava maquiagem, como se estivesse tentando não chamar atenção para si mesma, mas isso não funcionava. Ela era realmente bonita. Seus olhos pareciam mudar de cor como em um caleidoscópio - marrom, azul, e verde.
Jason soltou a mão dela.
— Hum, eu não...
Na parte da frente do ônibus, um professor gritou:
— Está bem, cupcakes, ouçam!
O homem obviamente era um treinador. Seu boné de beisebol estava afundado na cabeça, deixando a vista somente seus olhos lustrosos. Ele tinha uma barbicha rala e uma cara azeda, como se tivesse comido algo estragado. Ele vestia uma radiante camisa polo laranja, calças de caminhada e Nikes imaculadamente brancos. Usava um apito pendurado no pescoço, e um megafone estava preso ao seu cinto. Ele teria parecido bastante assustador se nao tivesse apenas um metro e meio de altura. Quando ele se levantou no corredor, um dos estudantes gritou:
— Levante-se, Treinador Hedge!
— Eu ouvi isso! — O treinador examinou o ônibus em busca do ofensor. Então seus olhos fixaram-se em Jason e sua carranca se aprofundou.
Um arrepio desceu pela coluna de Jason. Ele estava certo de que o treinador sabia que ele não pertencia àquele lugar. Ele estava indo chamar Jason, perguntar o que ele estava fazendo no ônibus - e Jason não saberia o que dizer.
Só que o Treinador Hedge olhou para longe e pigarreou.
— Chegaremos em cinco minutos! Permaneçam com sua dupla. Não percam suas planilhas. E se um de vocês, pequenos cupcakes, causar qualquer problema nessa excursão, eu vou pessoalmente mandá-los de volta para o campus do jeito difícil.
Ele pegou um taco de baseball e fez de conta que batia um home run.
Jason olhou para a garota ao seu lado.
— Ele pode falar conosco desse jeito?
Ela deu de ombros.
— Ele sempre fala. Essa é a Escola da Vida Selvagem, "Onde as crianças são os animais."
Ela falou como se fosse uma piada que tinham partilhado antes.
— Isso é algum tipo de engano — Jason falou. — Eu não devia estar aqui.
O garoto que estava a sua frente virou e riu.
— Sim, certo, Jason. Todos nós fomos enquadrados! Eu não fugi seis vezes. Piper não roubou uma BMW.
A garota corou.
— Eu não roubei esse carro, Leo!
— Oh, eu esqueci, Piper. Qual foi a sua história? Você convenceu o vendedor a emprestá-lo a você? — Ele levantou as sobrancelhas para Jason, como se dissesse: Dá pra acreditar?
Leo parecia um elfo latino do Papai Noel, com cabelos pretos encaracolados, orelhas pontudas, uma cara alegre, infantil, e um sorriso travesso que lhe dizia logo que esse cara não devia ser deixado na presença de fósforos ou objetos cortantes. Seus dedos longos e ágeis não paravam de se movimentar - batucando no banco, colocando o cabelo atrás das orelhas, brincando com os botões do paletó da farda de exército. Ou o garoto era naturalmente hiperativo ou se entupira de açúcar e cafeína o suficiente para dar um ataque cardíaco a um búfalo.
— De qualquer forma — disse Leo — eu espero que esteja com a sua planilha, porque usei a minha para fazer bolas de cuspe dias atrás. Por que você está me olhando assim? Alguém desenhou na minha cara de novo?
— Eu não te conheço — Jason disse.
Leo deu-lhe um sorriso amarelo.
— Claro. Não sou seu melhor amigo. Eu sou o clone mau dele.
— Leo Valdez! — Treinador Hedge gritou da frente. — Algum problema aí atrás?
Leo piscou para Jason.
— Assista essa. — Ele virou-se para frente. — Desculpe-me, Treinador! Eu estava tendo problemas para te escutar. Você pode usar seu megafone, por favor?
O Treinador Hedge grunhiu como se ele estivesse feliz por ter uma desculpa. Ele tirou o megafone do seu cinto e continuou a dar orientações, mas sua voz saiu como a de Darth Vader. As crianças caíram na gargalhada. O treinador tentou novamente, mas desta vez o megafone bradou:
— A vaca diz muuu!
Os garotos gritaram, e o treinador bateu o megafone.
— Valdez!
Piper abafou um riso.
— Meu Deus, Leo. Como você fez isso?
Leo deixou uma pequena chave de fenda Phillips cair de sua manga.
— Sou um garoto especial.
— Gente, é sério — Jason confessou. — O que estou fazendo aqui? Para onde estamos indo?
Piper arqueou suas sobrancelhas.
— Jason você está brincando?
— Não! Eu não tenho ideia...
— Ah sim, ele está brincando — disse Leo. — Ele está tentando descontar daquela vez que tinha creme de barbear na gelatina, não é?
Jason olhou para ele sem expressão.
— Não, eu acho que ele está falando sério — Piper tentou pegar sua mão novamente, mas ele a puxou.
— Desculpe-me — ele disse. — Eu não... Eu não posso...
— É isso ai! — Treinador Hedge gritou pela frente. — A fila de trás acabou de se oferecer para limpar a bagunça depois do almoço!
O resto dos garotos aplaudiu.
— Isso e chocante — disse Leo.
No entanto, Piper manteve seus olhos em Jason, como se ela não pudesse se decidir se estava machucada ou preocupada.
— Voce bateu a cabeça ou algo assim? Você realmente não sabe quem somos?
Jason deu com os ombros, impotente.
— É pior que isso. Eu não sei quem eu sou.

O ônibus deixou-os na frente de um grande complexo de estuque vermelho parecido com um museu, localizado no meio do nada. Talvez fosse isso mesmo, o Museu Nacional no Meio do Nada, Jason pensou. Um vento frio soprava do deserto. Jason não tinha prestado muita atenção ao que ele estava usando, mas não era nem perto quente o suficiente: jeans e tênis, uma camiseta roxa, e um blusão preto fino.
— Então, um curso intensivo para amnésia — Leo disse, em um tom prestativo que levou Jason a pensar que não ajudaria em nada. — Nós frequentamos a "Escola da Vida Selvagem" — Leo fez as aspas no ar com os dedos. — O que significa que somos "crianças más". Sua família ou o órgão responsável por você decidiu que você era muito problemático, então te mandou para esta adorável prisão... me desculpe, "internato"... em Armpit, Nevada, na qual você aprende valiosas habilidades naturais como correr dez quilômetros por dia através dos cactos, e tecer flores em chapéus! E para um tratamento especial, nós vamos a viagens "educacionais" de campo com o Treinador Hedge, que mantém a ordem com um taco de baseball. Está tudo voltando para você agora?
— Não — Jason olhou apreensivamente para as outras crianças: vinte garotos, talvez, e a metade deste número de garotas. Nenhum deles aparentava ser um criminoso perigoso, só que ele imaginou o que eles teriam feito para serem sentenciados a uma escola para delinquentes e imaginou por que ele pertencia a este grupo.
Leo revirou os olhos.
— Você realmente vai continuar com isso, não e? Ok. Então, nós três entramos aqui juntos este ano. Nós somos bem próximos. Você faz tudo o que eu digo, me dá sua sobremesa e faz meus deveres...
— Leo! — Piper vociferou.
— Está bem. Ignore esta última parte. Mas nós somos amigos. Bom, Piper é um pouco mais do que sua amiga nas ultimas semanas...
— Leo, para com isso! — O rosto de Piper ficou vermelho.
Jason também podia sentir seu rosto queimando. Pensou que se lembraria se estivesse saindo com uma
garota como Piper.
— Ele está com amnésia ou algo do tipo — Piper disse. — Nós temos que contar a alguém.
Leo zombou.
— Quem, o Treinador Hedge? Ele tentaria curar Jason batendo em sua cabeça.
O treinador estava na frente do grupo, gritando ordens e soprando seu apito para manter as crianças na fila, mas, de vez em quando, ele olhava para Jason e franzia as sobrancelhas.
— Leo, Jason precisa de ajuda — Piper insistiu. — Ele teve uma concussão ou...
— E aí, Piper. — Um dos outros meninos ficou para trás para se juntar aos três enquanto a turma se dirigia para o museu. O garoto novo se espremeu entre Jason e Piper e derrubou Leo. — Nao fale com estes perdedores. Você é minha parceira, lembra-se?
O novo rapaz tinha cabelos escuros cortados ao estilo do Super-Homem, era bem bronzeado, e tinha dentes tão brancos que eles deveriam vir com uma placa de recomendação: não olhe diretamente para os dentes, pode causar cegueira permanente.
Ele vestia um casaco dos Dallas Cowboys, calças jeans e botas ao estilo faroeste, e sorria como se fosse um presente de Deus para todas as meninas delinquentes de todo lugar. Jason odiou-o instantaneamente.
— Vá embora, Dylan — Piper resmungou. — Eu não pedi para fazer dupla com você.
— Ah, não seja assim. Hoje é o seu dia de sorte! — Dylan enganchou seu braço no de Piper e arrastou-a pela entrada do museu. Piper deu uma última olhada por sobre o ombro, como se fosse um pedido de ajuda urgente.
Leo se levantou e se limpou.
— Eu odeio esse cara. — Ele ofereceu seu braço a Jason, como se eles fossem entrar juntos pulando. — Eu sou o Dylan. Eu sou tão legal, eu gostaria de namorar comigo mesmo, mas eu não consigo descobrir como! Você quer sair comigo, então? Você tem tanta sorte!
— Leo — Jason disse — você é estranho.
— É, você me diz isso sempre — Leo sorriu largamente. — Mas se você não se lembra de mim, significa que eu posso recontar todas as minhas piadas antigas. Vamos lá!
Jason deduziu que, se este era seu melhor amigo, sua vida devia ser uma bagunça, mas ele seguiu Leo para dentro do museu.

Eles caminharam para dentro do prédio, parando aqui e ali para o treinador Hedge lhes dar um sermão com o seu megafone, que alternadamente o fazia parecer um lorde Sith ou soltava comentários aleatórios como “o porco diz oink.”
Leo continuava tirando porcas, parafusos, pregos e limpadores de cachimbo do bolso e juntando-os, como se ele tivesse que manter suas mãos ocupadas o tempo todo.
Jason estava distraído demais para prestar atenção nas exposições, mas elas falavam do Grand Canyon e da tribo Hualapai, que era dona do museu. Algumas garotas continuavam olhando para Piper e Dylan e rindo baixinho.
Jason deduziu que estas garotas eram do grupo das populares. Elas usavam calças jeans combinando, blusas rosa e tanta maquiagem que elas poderiam ir a uma festa de Dia das Bruxas.
Uma delas falou:
— Ei, Piper, a sua tribo cuida desse lugar? Você entra de graça se fizer a dança da chuva?
As outras garotas riram. Até o assim dito parceiro da Piper, Dylan, suprimiu um sorriso. O casaco de snowboard de Piper escondeu suas mãos, mas Jason teve a sensação de que ela tinha cerrado seus punhos.
— Meu pai e Cherokee — ela disse — não Hualapai. Mas é claro, você precisaria de alguns neurônios para saber a diferença, Isabel.
Isabel abriu os olhos em uma surpresa irônica, de maneira que pareceu uma coruja maquiada.
— Ah, desculpe-me. A sua mãe era dessa tribo? Ah, desculpe. Você nunca conheceu sua mãe.
Piper avançou sobre ela, mas antes que uma briga pudesse começar, o treinador Hedge vociferou:
— Já chega, vocês aí atrás! Sejam um bom exemplo ou eu vou pegar o meu taco de baseball!
O grupo prosseguiu para a próxima exposição, mas algumas meninas continuaram soltando pequenos comentários para Piper.
— É bom estar de volta à reserva? — uma delas perguntou com uma voz doce.
— O pai deve estar bêbado demais para trabalhar — outra disse com um pesar falso. — É por isso que ela se tornou cleptomaníaca.
Piper as ignorava, mas Jason estava pronto para socá-las. Ele poderia não se lembrar de Piper e nem de quem ele era, mas ele odiava crianças más. Leo segurou seu braço.
— Fique calmo. Piper não gosta que lutemos suas batalhas por ela. Além disso, se essas garotas descobrissem a verdade sobre o pai dela, todas elas estariam reverenciando-a e gritando "nós não somos merecedoras!"
— Por quê? O que tem o pai dela?
Leo riu, sem acreditar.
— Voce não está brincando? Você realmente não se lembra de que o pai da sua namorada...
— Olha, eu queria lembrar, mas eu nem mesmo me lembro dela, muito menos de seu pai.
Leo assobiou.
— Tanto faz. Nós temos que conversar quando voltarmos ao dormitório.
Eles chegaram ao final da sala de exibições, onde grandes portas de vidro levavam a um terraço.
— Ok, cupcakes — o treinador Hedge anunciou. — Vocês estão prestes a ver o Grand Canyon. Tentem não quebrá-lo. O observatório aguenta o peso de setenta jatos, então vocês, pesos-pena, devem estar seguros lá. Se possível, evitem empurrar uns aos outros por cima da cerca, porque isso me daria mais papelada pra preencher.
O treinador abriu as portas e todos saíram.
O Grand Canyon se estendia diante deles, ao vivo e em pessoa. Alem da beira, se abria uma passarela em forma de ferradura feita de vidro, de forma a permitir que você possa ver através dela.
— Cara — Leo disse. — Isso é muito louco.
Jason tinha de concordar. Apesar de sua amnésia e de sua sensação de que ele não pertencia àquele grupo, ele não podia evitar ficar impressionado.
O desfiladeiro era maior e mais largo do que se poderia imaginar por uma foto. Eles estavam tão alto que pássaros voavam abaixo deles. Mais de mil metros abaixo, um rio serpenteava ao longo do pé do desfiladeiro. Bancos de nuvens de tempestade haviam se movido no céuenquanto eles estavam dentro do museu, lançando sombras que pareciam rostos zangados sobre o penhasco. Até onde Jason podia ver, em qualquer direção, ravinas vermelhas e cinzas cortavam o deserto como se um Deus louco o tivesse cortado com uma faca.
Jason sentia uma dor perfurante atrás dos olhos. Deus louco... De onde ele tirou essa ideia? Ele sentia como se tivesse chegado perto de algo importante - algo que ele devia saber. Ele também tinha a inequívoca sensação de que estava em perigo.
— Você está bem? — Leo perguntou. — Você não vai vomitar, vai? Porque eu deveria ter trazido minha câmera...
Jason se apoiou na grade. Ele estava tremendo e suando, mas não tinha nada a ver com altura. Ele piscou e a dor atrás dos olhos melhorou um pouco.
— Eu estou bem — ele disse. — É só uma dor de cabeça.
Trovões estrondavam acima deles. Um vento frio quase o derrubou de lado.
— Isto não pode ser seguro — Leo lançou um olhar furtivo para as nuvens. — A tempestade está bem acima de nós, mas o céu está limpo ao nosso redor. Estranho, não?
Jason olhou para cima e viu que Leo estava certo. Um circulo de nuvens escuras havia se estacionado em cima do observatório, mas o resto do céu em todas as direções estava perfeitamente limpo. Jason teve um pressentimento ruim sobre isso.
— Tudo bem, molengas! — Gritou o Treinador Hedge. Ele franziu o cenho para a tempestade como se isso o incomodasse muito. — Talvez tenhamos que encurtar o passeio, então mãos à obra! Lembrem-se, frases completas!
A tempestade rugia, e a cabeça de Jason começou a doer de novo. Sem saber porque fez isso, enfiou a mão no bolso do jeans e de lá tirou uma moeda - um circulo de ouro do tamanho de uma moeda de 50 cents, um pouco mais espessa e mais desigual.
Em um dos lados estava estampada a figura de um machado de batalha. No outro estava o rosto de um garoto coberto de louros. A inscrição dizia algo como IVLIVS.
— Nossa, isso é ouro? — Leo perguntou. — Você esteve escondendo de mim!
Jason guardou a moeda, se perguntando como ele viria a tê-la, e porque ele sentia que precisaria dela em breve.
— Não é nada — ele disse. — Apenas uma moeda.
Leo balançou os ombros. Talvez sua mente tivesse que manter se movimentando tanto quanto suas mãos.
— Vamos lá — ele disse. — Te desafio a cuspir na beirada.

Eles não se esforçaram muito na planilha. Em primeiro lugar, Jason estava muito distraído com a tempestade e com os seus próprios sentimentos confusos. Em segundo, ele não tinha nenhuma ideia como “nomear três camadas sedimentares que você observa” ou “descrever dois exemplos de erosão.”
Leo não era de muita ajuda. Ele estava muito ocupado construindo um helicóptero de limpadores de cachimbo.
— Veja isso.
Ele lançou o helicóptero. Jason imaginou que iria despencar, mas as lâminas dos limpadores de cachimbo estavam realmente afiadas. O pequeno helicóptero voou pelo desfiladeiro antes de perder a forca inicial e cair em espiral no vazio.
— Como você fez isso? — Jason perguntou.
Leo deu de ombros
— Poderia ter sido mais legal se eu tivesse alguns elásticos.
— Falando serio — Jason falou — nós somos amigos?
— Na ultima vez que eu verifiquei, sim.
— Você tem certeza? Qual foi o primeiro dia que nós nos encontramos? Do que nós falamos?
— Foi... — Leo franziu a testa. — Não lembro exatamente. Tenho TDAH, cara. Você não pode esperar que eu me lembre de detalhes.
— Mas eu não me lembro nada de você. Não me lembro de ninguém daqui. E se...
— Se você estiver certo e todo mundo estiver errado? — Leo perguntou. — Você acha que só apareceu aqui nesta manhã, e todos nós temos memórias falsas de você? — Uma pequena voz na cabeça de Jason dizia, É exatamente o que penso.
No entanto, isso parecia loucura. Todo mundo tinha certeza da presença dele. Todos agiram como se ele fosse uma parte normal da classe — exceto para o Treinador Hedge.
— Pegue a planilha — Jason entregou o papel para Leo. — Eu já volto.
Antes que Leo pudesse protestar, Jason se dirigiu ao observatório.
O grupo escolar deles tinha o lugar inteiramente para eles mesmos. Talvez fosse muito cedo para turistas, ou talvez o clima estranho tenha assustado todos. As crianças da Escola da Vida Selvagem se espalharam em pares por todo o observatório. A maioria estava brincando ou conversando. Alguns garotos estavam jogando moedas lá para baixo. A mais ou menos quinze metros de distância, Piper estava tentando preencher seu relatório, mas o seu parceiro estúpido, Dylan, estava jogando cantadas para ela, colocando a sua mão no ombro da garota e dando-lhe aquele ofuscante sorriso branco. Ela continuava afastando-o, e quando ela viu Jason, olhou para ele como quem diz, Por favor, estrangule este garoto para mim.
Jason fez sinal para ela esperar. Ele caminhou até o Treinador Hedge, que estava encostado em seu taco de baseball, estudando as nuvens de tempestade.
— Você fez isto? — o treinador perguntou para ele.
Jason deu um passo para trás.
— Fiz o quê? — Soou como se o treinador tivesse acabado de perguntar se ele tinha feito a tempestade.
O Treinador Hedge olhou para ele, seus lustrosos olhinhos brilhando sob a aba do boné.
— Não brinque comigo, criança. O que você estáa fazendo aqui e por que está atrapalhando meu trabalho?
— Você quer dizer que... você não me conhece? — Jason falou. — Não sou um de seus alunos?
Hedge inspirou.
— Nunca tinha visto você atá hoje.
Jason estava tão aliviado que quase quis chorar. Pelo menos ele não estava ficando louco. Ele estava no lugar errado.
— Olhe, senhor, eu não sei como cheguei aqui. Eu apenas acordei no ônibus da escola. Tudo que eu sei é que eu não deveria estar aqui.
— Está certíssimo. — A voz rouca de Hedge caiu para um sussurro, como se ele fosse partilhar um segredo. — Você tem grande poder sobre a Névoa, garoto, já que pode fazer todas essas pessoas pensarem que te conhecem; mas não pode me fazer de tolo. Eu estive farejando um monstro por dias. Eu sabia que nós tínhamos um invasor, mas você não cheira como um monstro. Você cheira como um meio-sangue. Então... quem é você, de onde veio?
A maior parte do que o treinador falou não fazia sentido, mas Jason decidiu responder honestamente.
— Não sei quem sou. Não tenho nenhuma lembrança. Você tem que me ajudar.
Treinador Hedge estudou o seu rosto como se estivesse tentando ler os pensamentos de Jason.
— Ótimo — murmurou Hedge. — Você está sendo sincero.
— É claro que eu estou! E o que é tudo isso sobre monstros e meio-sangues? São códigos ou alguma coisa assim?
Hedge estreitou seus olhos. Parte de Jason se perguntou se o cara era apenas um louco. A outra parte, porém, sabia melhor.
— Olhe, garoto — Hedge falou — eu não sei quem você é. Só sei o que você é, e isso significa problema. Agora eu tenho que proteger três de vocês, e não dois. Você é o pacote especial? É isso?
— Do que você está falando?
Hedge olhou para a tempestade. As nuvens estavam ficando mais grossas e mais escuras, pairando diretamente sobre a passarela.
— Esta manhã — Hedge falou — recebi uma mensagem do acampamento. Eles disseram que uma equipe de extração está a caminho. Eles estão vindo para pegar um pacote especial, mas eles não deveriam me dar detalhes. Eu pensei por mim mesmo. Os dois que estou observando são mais poderosos, mais velhos que a maioria. Eu sei que eles estão sendo perseguidos. Eu posso sentir o cheiro de um monstro no grupo. Imaginei que esse fosse o motivo para de repente o acampamento estar tão apressado para buscá-los. Mas aí você aparece do nada. Então... você é o pacote especial?
A dor atras dos olhos de Jason ficou pior do que nunca. Meio-sangues. Acampamento. Monstros. Ele continuou sem entender nada do que Hedge estava falando, mas as palavras lhe deram um pesado congelamento nos miolos — como se sua mente estivesse tentando acessar informações que deveriam estar ali, mas não estavam.
Ele tropeçou, e o Treinador Hedge o pegou. Para um cara pequeno, o treinador tinha mãos de ferro.
— Calma lá, molenga. Você disse que não tem lembranças, né? Bem. Eu vou ter que te observar, também, até a equipe chegar aqui. Vamos deixar o diretor descobrir essas coisas.
— Que diretor? — disse Jason. — Que acampamento?
— Apenas fique sentado. Reforços devem chegar aqui em breve. Espero que nada aconteça antes...
Um raio caiu acima de suas cabeças. O vento batia furioso. Planilhas voaram para dentro do Grand Canyon, e a ponte inteira estremeceu. Crianças gritaram, tropeçando e agarrando às amuradas.
— Eu devia falar alguma coisa — Hedge resmungou. Ele gritou em seu megafone: — Todos para dentro! A vaca diz mu! Para fora do observatório!
— Achei que você tivesse dito que essa coisa era segura! — Jason gritou por cima do vento.
— Em circunstâncias normais, são — Hedge concordou. — Esse não é o caso. Vamos!

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