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A Maldição do Titã - CAP. 1

.. domingo, 17 de março de 2013

Capítulo 1 - Minha operação de resgate dá muito errado

Na sexta-feira anterior às férias de inverno minha mãe arrumou uma sacola de viagem e algumas armas letais para mim e me levou para um novo internato. No caminho pegamos minhas amigas Annabeth e Thalia.

Eram oito horas de carro de Nova York até Bar Harbor, Maine. Chuva e neve castigavam a rodovia. Annabeth, Thalia e eu não nos víamos fazia meses, mas em meio à tempestade e à ideia do que estávamos prestes a fazer nos sentíamos nervosos demais para conversar muito. A exceção era minha mãe. Ela fala mais quando está nervosa.
Quando finalmente chegamos a Westover Hall, já estava escurecendo e ela havia contado a Annabeth e Thalia todas as histórias embaraçosas de bebê que havia para contar a meu respeito.
Thalia limpou o vidro embaçado do carro e olhou para fora.
– Ah, sim! Isso vai ser divertido.
Westover Hall parecia o castelo de um cavaleiro malvado. Era toda de pedras pretas, com torres e janelas em fenda, e um grande conjunto de portas duplas de madeira. Ficava sobre um penhasco nevado que dava para uma grande floresta gelada de um lado e o oceano cinzento e turbulento do outro.
– Vocês têm certeza de que não querem que eu espere? – perguntou minha mãe.
– Não, mãe, obrigado – disse eu. – Não sei quanto tempo vai levar. Vai dar tudo certo.
– Mas como vocês vão voltar? Estou preocupada, Percy.
Esperei não estar corando. Já era bastante ruim ter de depender da minha mãe para me levar para as minhas batalhas.
– Está tudo bem, senhora Jackson. – Annabeth sorriu tranquilizadora. Seus cabelos loiros estavam enfiados em um gorro de esquiador e seus olhos cinzentos eram da mesma cor do oceano. – Nós vamos mantê-lo longe de encrencas.
Minha mãe pareceu relaxar um pouco. Ela acha que Annabeth é a semideusa mais sensata que já conseguiu chegar à oitava série. Está certa de que Annabeth quase sempre evita que eu seja morto. Tem razão, mas isso não quer dizer que eu tenha de gostar disso.
– Está bem, queridos – disse minha mãe. – Vocês têm tudo o que precisam?
– Sim, senhora Jackson – disse Thalia. – Obrigada pela carona.
– Pulôveres de reserva? Vocês têm o número do meu celular?
– Mãe…
– A sua ambrosia e o seu néctar, Percy? E um dracma de ouro para o caso de você precisar entrar em contato com o acampamento?
– Mãe, é sério! Tudo vai dar certo. Vamos, meninas.
Ela pareceu um pouco magoada, e eu senti uma ponta de arrependimento por isso, mas estava pronto para sair daquele carro. Se minha mãe contasse mais uma história sobre a gracinha que eu era no banho quando tinha três anos eu ia me enterrar na neve e morrer congelado.
Annabeth e Thalia me seguiram. O vento soprou através do meu casaco como adagas de gelo. Depois que o carro de minha mãe sumiu de vista, Thalia disse:
– Sua mãe é demais, Percy.
– Ela é bem legal – admiti. – Mas e você? Às vezes entra em contato com sua mãe?
Assim que disse isso me arrependi. Thalia era ótima em lançar olhares malignos, com aquelas roupas punk que ela sempre usa – o casaco militar rasgado, as calças de couro preto e as joias de correntes, o delineador preto naqueles intensos olhos azuis. Mas o olhar que ela me lançou naquela hora foi perfeitamente do mal:
– Como se isso fosse da sua conta, Percy...
– É melhor a gente entrar – interrompeu Annabeth. – Grover deve estar esperando.
Thalia olhou para o castelo e estremeceu.
– Você tem razão. Só queria saber o que ele encontrou aqui que o fez mandar o S.O.S.
Ergui os olhos para as torres escuras de Westover Hall.
– Nada de bom – presumi.
As portas de carvalho se abriram rangendo, e nós três entramos no saguão em um turbilhão de neve. Tudo o que pude dizer foi:
– Uau!
O lugar era imenso. As paredes eram forradas de estandartes de batalha e armas em exposição: rifles antigos, machados de guerra e um monte de outras coisas. Quer dizer, eu sabia que Westover era uma escola militar e tudo, mas o exagero da decoração era massacrante. Literalmente.
Minha mão foi para o bolso onde eu guardava minha caneta esferográfica letal, Contracorrente. Eu já podia sentir que havia algo de errado naquele lugar. Algo perigoso. Thalia estava esfregando seu bracelete prateado, seu item mágico favorito. Percebi que pensávamos na mesma coisa. Havia uma luta pela frente.
Annabeth começou a dizer:
– Queria saber onde...
As portas se fecharam violentamente atrás de nós.
– Oops – murmurei. – Acho que vamos ficar mais um pouco.
Pude ouvir música ecoando do outro lado do saguão. Parecia dance music. Deixamos nossas sacolas de viagem atrás de um pilar e começamos a atravessar o saguão. Não tínhamos ido muito longe quando ouvi passos no piso de pedra, e um homem e uma mulher marcharam saindo das sombras para nos interceptar.
Ambos tinham cabelos grisalhos curtos e uniforme preto em estilo militar com debruns vermelhos. A mulher tinha um bigode ralo e o homem, a cara perfeitamente barbeada, o que me pareceu meio invertido. Os dois caminhavam rigidamente, como se tivessem cabos de vassoura grudados com fita adesiva nas costas.
– E então? – perguntou a mulher. – O que estão fazendo aqui?
– Ahn... – Percebi que não havia planejado nada para aquela situação. Estava tão concentrado em chegar até Grover e descobrir o que estava errado que não levara em consideração que alguém poderia questionar por que três crianças estavam se esgueirando para dentro da escola no meio da noite. Não tínhamos conversado no carro sobre como faríamos para entrar. Eu disse:
– Madame, nós estamos só...
– Ah! – Disparou o homem, o que me fez dar um pulo. – Não são permitidos visitantes no baile. Vocês vão ser expulsos!
Ele tinha um sotaque – francês, talvez. Pronunciava o x como pixel. Era alto, com cara de águia. Suas narinas se dilatavam quando ele falava, o que tornava difícil não olhar para o nariz dele, e os olhos tinham duas cores diferentes – um era castanho, e o outro, azul – como os de um gato de rua.
Calculei que ele estava a ponto de nos atirar na neve, mas então Thalia deu um passo à frente e fez algo muito estranho. Ela estalou os dedos. O som foi nítido e forte. Talvez fosse apenas minha imaginação, mas senti uma lufada de vento se propagando da mão dela pelo saguão. O vento passou por cima de todos nós e fez tremular os estandartes nas paredes.
– Ah! Mas não somos visitantes, senhor – disse Thalia. – Estudamos aqui. O senhor lembra: eu sou Thalia. E estes são Annabeth e Percy. Estamos na oitava série.
O professor estreitou os olhos de duas cores. Eu não sabia o que Thalia estava pensando. Agora provavelmente seríamos castigados por mentir e também atirados na neve. Mas o homem pareceu hesitar.
Ele olhou para sua colega.
– Senhorita Tengiz, conhece estes alunos?
A despeito do perigo que corríamos, tive de morder a língua para não rir. Uma professora chamada Tem Giz? Ele devia estar brincando. A mulher piscou, como alguém que acabava de despertar de um transe.
– Eu... sim. Acho que sim, senhor. – Ela nos olhou, carrancuda. –Annabeth. Thalia. Percy. O que vocês estão fazendo fora do ginásio?
Antes que pudéssemos responder, ouvi mais passos, e Grover veio correndo, sem fôlego.
– Vocês conseguiram! Vocês...
– O que é isso, senhor Underwood? – disse o homem. Seu tom deixou claro que ele detestava Grover. – O que quis dizer com “conseguiram chegar”? Estes alunos moram aqui.
Grover engoliu em seco.
– Sim, senhor. É claro, Dr. Streppe. Eu só queria dizer que estou muito contente porque eles conseguiram... fazer o ponche para o baile! O ponche está uma delícia. E foram eles que fizeram!
O Dr. Streppe nos fulminou com o olhar. Concluí que um dos seus olhos só podia ser postiço. O castanho? O azul? Ele parecia querer nos atirar de cima da torre mais alta do castelo, mas então a Srta. Tengiz disse, com ar sonhador:
– Sim, o ponche está excelente. Agora vão andando, todos vocês. E não saiam do ginásio de novo!
Não esperamos ela falar duas vezes. Partimos com uma porção de “Sim, senhora!” e “Sim, senhor!”, e batemos um par de continências, só porque parecia ser a coisa certa a fazer.
Grover nos empurrou corredor abaixo na direção da música. Pude sentir os olhos dos professores nas minhas costas, mas caminhei bem perto de Thalia e perguntei em voz baixa:
– Como você fez aquela coisa de estalar os dedos?
– Você quer dizer a Névoa? Quíron ainda não mostrou a você como fazer isso?
Um nó incômodo se formou na minha garganta. Quíron era nosso principal treinador no acampamento, mas ele nunca me mostrara nada como aquilo. Por que mostrara a Thalia e não a mim?
Grover nos apressou até uma porta onde estava escrito GINÁSIO no vidro. Mesmo com minha dislexia, consegui ler aquilo.
– Essa foi por pouco! – disse Grover. – Graças aos deuses vocês chegaram!
Annabeth e Thalia abraçaram Grover. Ergui a mão e bati na dele. Foi bom vê-lo depois de tantos meses. Ele ficara um pouco mais alto e mais alguns fios de barba haviam nascido, mas, fora isso, sua aparência era a mesma de sempre quando ele passava por ser humano – um boné vermelho sobre o cabelo castanho encaracolado para esconder os chifres de bode, jeans folgados com pés falsos para esconder as pernas peludas e os cascos. Usava uma camiseta preta cujos dizeres levei alguns segundos para ler. Estava escrito: WESTOVER HALL: PRAÇA. Eu não sabia muito bem se aquilo era tipo o posto militar de Grover, ou quem sabe apenas o lema da escola.
– Então, qual é a emergência? – Perguntei.
Grover respirou fundo.
– Eu encontrei dois.
– Dois meio-sangues? – perguntou Thalia, surpresa. – Aqui?
Grover assentiu.
Encontrar um meio-sangue já era bastante raro. Naquele ano, Quíron pusera os sátiros para trabalhar horas extras e os enviara aos quatro cantos do país observando os alunos da quarta à oitava séries dos colégios em busca de possíveis recrutas. Eram tempos difíceis. Estávamos perdendo campistas. Precisávamos de todos os novos lutadores que pudéssemos encontrar. O problema era que não havia muitos semideuses por aí.
– Um irmão e uma irmã – disse ele. – Têm dez e doze anos. Não sei quem são seus pais, mas são fortes. E nosso tempo está se acabando. Eu preciso de ajuda.
– Monstros?
– Um – Grover parecia nervoso. – Ele suspeita. Não acredito que já tenha certeza, mas é o último dia do ano letivo. Estou certo de que não permitirá que eles deixem a escola antes de descobrir. Pode ser nossa última chance! Cada vez que tento chegar perto deles o monstro está sempre lá, me impedindo. Não sei o que fazer!
Grover olhou desesperado para Thalia. Tentei não me sentir incomodado com isso. Normalmente, Grover olhava pra mim esperando respostas, mas Thalia tinha precedência. Não apenas porque o pai dela era Zeus. Thalia tinha mais experiência que qualquer um de nós em combater monstros no mundo real.
– Certo – disse ela. – Esses meio-sangues estão no baile? – Grover assentiu. – Então vamos dançar – disse Thalia. – Quem é o monstro?
– Ah! – falou Grover olhando em volta, nervoso. – Você acabou de conhecê-lo. O vice-diretor, Dr. Streppe.
O estranho nas escolas militares é que as crianças ficam enlouquecidas quando acontece algum evento especial e elas podem tirar o uniforme. Acho que é porque tudo é tão rígido, o restante do tempo elas sentem que precisam compensar ao máximo, ou coisa assim.
Havia balões pretos e vermelhos espalhados por todo o piso do ginásio, e os caras os chutavam um na cara do outro, ou tentavam estrangular uma ao outro com as correntes de papel crepom grudadas nas paredes. As meninas se moviam de lá para cá amontoadas como num jogo de futebol americano, do jeito como sempre fazem, usando montes de maquiagem, blusas de alças finas, calças de cores berrantes e sapatos que pareciam instrumentos de tortura. Volta e meia cercavam algum pobre coitado como um cardume de peixes, aos gritinhos e risadinhas, e quando finalmente se afastavam, o cara estava com fitas no cabelo e rabiscos de batom na cara inteira. Alguns dos caras mais velhos se pareciam mais comigo – pouco à vontade, junto às paredes do ginásio, tentando se esconder, como se a qualquer minuto fossem ter de lutar pelas suas vidas. No meu caso, é claro, isso era verdade...
– Lá estão eles – Grover acenou com a cabeça para duas crianças mais novas discutindo na arquibancada. – Bianca e Nico di Angelo.
A menina usava um gorro verde frouxo, como se estivesse tentando esconder o rosto. O menino era, obviamente, seu irmão menor. Ambos tinham cabelo escuro e sedoso e pele morena, e usavam muito as mãos quando falavam. O menino estava embaralhando algum tipo de figurinhas. A irmã parecia repreendê-lo por alguma razão. Ficava olhando em volta, como se sentisse que havia algo errado.
Annabeth disse:
– Eles já... quer dizer, você já contou a eles?
Grover sacudiu a cabeça.
– Você sabe como é. Isso poderia deixá-los ainda mais em perigo. Depois que se dão conta de quem são, seu cheiro fica mais forte.
Ele olhou para mim e eu assenti. Na verdade, nunca entendi qual é o “cheiro” dos meio-sangues para monstros e sátiros, mas sabia que o cheiro pode fazê-lo ser morto. E, quanto mais a gente se torna um semideus poderoso, mais tem cheiro de almoço de monstro.
– Então vamos pegá-los e dar o fora daqui – falei.
Dei um passo à frente, mas Thalia pôs a mão em meu ombro. O vice-diretor, Dr. Streppe, se esgueirara por uma porta ao lado da arquibancada e estava perto dos irmãos Di Angelo. Ele acenou friamente com a cabeça em nossa direção. Seu olho azul parecia incandescente.
A julgar pela expressão dele, adivinhei que Streppe não se deixara enganar pelo truque de Thalia com a Névoa, afinal. Ele suspeitava de quem éramos. Estava apenas aguardando para ver por que estávamos ali.
– Não olhe para os irmãos – ordenou Thalia. – Temos de esperar uma oportunidade de chegar até eles. Precisamos fingir que não estamos interessados neles. Despistá-los.
– Como?
– Somos três meio-sangues poderosos. Nossa presença deve confundi-lo. Misturem-se. Ajam naturalmente. Dancem um pouco. Mas fiquem de olho naquelas crianças.
– Dançar? – perguntou Annabeth.
Thalia fez que sim. Ela prestou atenção na música e fez uma careta.
– Eca. Quem escolheu Jesse McCartney?
Grover pareceu ofendido.
– Eu.
– Ah, meus deuses, Grover! Isso é tão careta. Não dá para tocar Green Day ou coisa assim?
– Green o quê?
– Nada, não. Vamos dançar.
– Mas eu não sei dançar!
– Você consegue se eu conduzir – disse Thalia. – Vamos, garoto-bode.
Grover ganiu, e Thalia pegou a mão dele e o levou para a pista de dança. Annabeth sorriu.
– O quê? – perguntei.
– Nada. É bom ter Thalia de volta.
Annabeth havia ficado mais alta que eu desde o último verão, algo que eu achava um pouco incômodo. Ela não costumava usar joias a não ser seu colar de contas do Acampamento Meio-Sangue, mas agora usava pequenos brincos em forma de coruja – o símbolo de sua mãe, Atena. Tirou o gorro de esquiador e seus longos cabelos loiros caíram até os ombros. Por alguma razão, aquilo a fez parecer mais velha.
– Então...? – Tentei pensar em algo para dizer. Ajam naturalmente, falara Thalia. Quando se é um meio-sangue em uma missão perigosa, que diabo significa agir naturalmente?
– Ahn, tem projetado alguns edifícios legais ultimamente?
Os olhos de Annabeth se iluminaram, como sempre acontecia quando ela falava sobre arquitetura.
– Ah, meus deuses, Percy! Na minha nova escola eu escolhi desenho em perspectiva como matéria eletiva, e tem aquele programa de computador muito legal que...
Ela prosseguiu explicando como projetara aquele enorme monumento que queria construir em Manhattan, no Marco Zero, o lugar onde ficavam as torres do World Trade Center. Falou sobre suportes estruturais, fachadas e outras coisas, e eu tentei ouvir. Sabia que ela queria ser uma superarquiteta quando crescesse – ela adora matemática, edifícios históricos e tudo mais – mas eu mal entendia uma palavra do que ela dizia. Na verdade eu estava desapontado por ouvir que ela gostava tanto da nova escola em Nova York. Eu tinha esperança de vê-la com mais frequência. Era um internato no Brooklyn, ela e Thalia estavam frequentando juntas, e era bastante perto do Acampamento Meio-Sangue para Quíron poder ajudá-las caso se metessem em alguma encrenca. Como era uma escola só para meninas, e eu estava frequentando a MS-54 em Manhattan, mal podia vê-las.
– É, ah, legal – disse eu. – Então você vai ficar por lá o resto do ano, ahn?
A expressão dela nublou.
– Bem, talvez, se eu não...
– Ei! – Thalia gritou para nós. Ela estava dançando lentamente com Grover, que ficava tropeçando nas próprias pernas, chutando-a nas canelas, parecia querer morrer. Pelo menos os pés dele eram falsos. Diferentemente de mim, ele tinha uma desculpa para ser desajeitado.
– Dancem vocês também! – ordenou Thalia. – Parecem bobos aí parados.
Olhei nervoso para Annabeth, e então para os grupos de meninas que perambulavam pelo ginásio.
– E então? – disse Annabeth.
– Ahn, quem devo tirar para dançar?
Ela me deu um soco na barriga.
– Eu, senhor Cabeça de Alga.
– Ah! Ah, certo.
Lá fomos nós para a pista de dança, e dei uma olhada para ver como Thalia e Grover estavam fazendo. Pus uma das mãos na cintura de Annabeth e ela pegou a outra como se fosse me dar um golpe de judô.
– Não vou morder – disse ela. – Francamente, Percy. Vocês não têm festas na sua escola?
Não respondi. A verdade é que tínhamos. Mas eu nunca gostei; na verdade, nunca dancei. Normalmente, eu era um dos caras jogando basquete no canto.
Arrastamos os pés de um lado para o outro durante alguns minutos. Tentei me concentrar em pequenas coisas, como as correntes de papel crepom e a tigela de ponche – tudo menos o fato de que Annabeth era mais alta que eu, e minhas mãos estavam suadas e provavelmente sem jeito, e eu ficava o tempo todo pisando os pés dela.
– O que você estava dizendo antes? – perguntei. – Está com problemas na escola, ou coisa assim?
Ela contraiu os lábios.
– Não é isso. É meu pai.
– Ahn-ahn. – Eu sabia que Annabeth tinha uma relação instável com o pai. – Achei que as coisas estavam melhorando entre vocês dois. É sua madrasta de novo?
Annabeth suspirou.
– Ele decidiu se mudar. Justamente quando eu estava me acostumando com Nova York ele aceitou aquele novo emprego bobo de pesquisar para um livro sobre a Primeira Guerra Mundial. Em São Francisco.
Disse isso do mesmo jeito que eu poderia dizer Campos da Punição ou Uniforme de ginástica do Hades.
– Então ele quer que você se mude para lá com ele?
– Para o outro lado do país – disse ela em um tom infeliz. – E meio-sangues não podem viver em São Francisco. Ele devia saber disso.
– O quê? Por que não?
Annabeth revirou os olhos. Talvez pensasse que eu estava brincando.
– Você sabe. É bem ali.
– Ah! – disse eu. Não tinha ideia do que ela estava falando, mas não queria parecer bobo.
– Então... você vai voltar a viver no acampamento ou o quê?
– É mais sério que isso, Percy. Eu... acho que devia contar uma coisa a você.
De repente ela gelou.
– Eles se foram.
– O quê?
Segui o olhar dela. A arquibancada. As duas crianças meio-sangues, Bianca e Nico, não estavam mais lá. A porta ao lado da arquibancada estava totalmente aberta. O Dr. Streppe não estava em lugar nenhum.
– Temos de achar Thalia e Grover! – Annabeth olhou em volta freneticamente. – Ah, para onde eles saíram dançando? Vamos!
Ela correu por entre a multidão. Eu já ia segui-la quando um bando de meninas ficou no meu caminho. Contornei-as para evitar o tratamento de fita e batom, e quando consegui me livrar Annabeth havia desaparecido. Girei o corpo procurando por ela, Thalia ou Grover. Em vez disso, vi algo que gelou meu sangue.
A cerca de quinze metros, caído no chão do ginásio, estava um gorro verde como o que Bianca di Angelo usava. Perto dele, algumas figurinhas espalhadas. Então vi de relance o Dr. Streppe. Saía às pressas por uma porta do lado oposto do ginásio, levando as crianças di Angelo pelo cangote como se fossem gatinhos. Ainda não conseguia avistar Annabeth, mas sabia que ela estaria indo para o outro lado, à procura de Thalia e Grover.
Quase corri atrás dela, mas então pensei: Espere.
Lembrei-me do que Thalia me dissera no saguão, olhando surpresa para mim quando perguntei sobre o truque de estalar os dedos: Quíron ainda não mostrou a você como fazer isso? Pensei no modo como Grover a olhara, esperando que ela salvasse o dia.
Não que eu estivesse ressentido com Thalia. Ela era legal. Não era culpa dela se seu pai era Zeus e ela recebia toda a atenção... Ainda assim, eu não precisava correr atrás dela para resolver todos os problemas. Além disso, não dava tempo. Os di Angelo estavam em perigo. Eles poderiam já estar desaparecidos há muito tempo quando eu conseguisse encontrar meus amigos. Eu conhecia monstros. Era capaz de lidar com aquilo sozinho.
Tirei Contracorrente do bolso e corri atrás do Dr. Streppe.
A porta levava a um corredor escuro. Eu ouvi sons de pés se arrastando mais a frente, e então um doloroso grunhido. Eu desencapei Contracorrente.
A caneta cresceu em minhas mãos até que eu estava segurando uma espada grega de bronze com um metro de comprimento e punho envolvido em couro. A lâmina brilhava ligeiramente, lançando uma luz dourada na fileira de armários.
Eu corri pelo corredor, mas quando eu cheguei ao final, não havia ninguém lá. Eu abri uma porta e me achei de volta no corredor da entrada principal. Eu me virei completamente. Eu não via Dr. Streppe em lugar algum, mas ali no lado oposto do ambiente estavam as crianças di Angelo. Eles estavam paralisados em terror, olhando fixamente para mim.
Eu avancei lentamente, baixando a ponta da minha espada.
– Está tudo bem. Eu não vou machucar vocês.
Eles não responderam. Seus olhos estavam cheios de medo. O que estava errado com eles? Onde estava o Dr. Streppe? Talvez ele tenha sentido a presença de Contracorrente e recuado. Monstros odeiam armas de bronze celestial.
– Meu nome é Percy – eu disse, tentando manter o nível da minha voz. – Eu vou tirar vocês daqui, levá-los para um lugar seguro.
Os olhos de Bianca se arregalaram. Ela cerrou os punhos. Só tarde demais eu percebi o que seu olhar significava. Ela não estava com medo de mim. Ela estava tentando me avisar.
Eu rodopiei em volta e algo fez WHIISH! Dor explodiu em meu ombro. Uma força como uma mão gigante me puxou para trás e me lançou contra a parede.
Eu golpeei com minha espada, mas não havia nada para ser atingido.
Uma risada fria ecoou pelo corredor.
– Sim, Perseu Jackson – Dr. Streppe disse. Seu sotaque deformou o J em meu sobrenome. – Eu sei quem você é.
Eu tentei libertar meu ombro. Meu casaco e camiseta estavam pregados na parede por algum tipo de cravo – um projétil como uma adaga com trinta centímetros de comprimento. Ela havia esfolado a pele do meu ombro quando passou pelas minhas roupas, e o corte queimava. Eu havia sentido algo como isso antes. Veneno.
Eu fiz força para me concentrar. Eu não iria desmaiar.
Uma silhueta escura agora se movia em nossa direção. Dr. Streppe deu um passo para a luz fraca. Ele ainda parecia humano, mas sua face era macabra. Ele tinha dentes perfeitamente brancos e seus olhos castanho/azul refletiam a luz da minha espada.
– Obrigado por sair do ginásio – ele disse. – Eu odeio bailes colegiais.
Eu tentei balançar minha espada novamente, mas ele estava fora de alcance. WHIIIISH! Um segundo projétil foi atirado de algum lugar atrás do Dr. Streppe. Ele não pareceu se mover. Era como se alguém invisível estivesse atrás dele, atirando facas. Perto de mim, Bianca ganiu. O segundo espinho cravou na parede de pedra, a milímetros do seu rosto.
– Vocês três virão comigo – Dr. Streppe disse. – Silenciosamente. Obedientemente. Se vocês fizerem um som que seja, se gritarem por ajuda ou tentarem fugir, eu vou mostrar a vocês quão precisamente eu posso atirar.

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