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O Sangue do Olimpo - CAP. III

.. terça-feira, 14 de outubro de 2014
III
JASON

DE ALGUM MODO ELE A conhecia. Reconheceu seu vestido — um vestido transpassado florido, todo em verde e vermelho, como toalhas de ceia de Natal. Ele reconheceu os braceletes de plástico coloridos em seus pulsos, que se afundaram nas costas de Jason quando ela o abraçara para se despedir na Casa dos Lobos. Reconheceu seu cabelo, os cachos pintados de louro e o penteado volumoso, e seu aroma de limão e laquê. Os olhos eram azuis como os de Jason, mas brilhavam com uma luz refratada estranha, como se ela tivesse acabado de sair de um abrigo após uma guerra nuclear — avidamente em busca de detalhes familiaresem um mundo mudado.
— Querido.
Ela estendeu os braços.
O restante do mundo desapareceu. Os fantasmas e ghouls não
importavam mais.
O disfarce de Névoa se esvaiu. Ele voltou a ter uma postura ereta. As juntas pararam de doer. O cajado se transformou novamente em um gládio de ouro imperial. A sensação de queimação não parou. Ele sentia como se camadas desua vida estivessem sendo queimadas, seus meses no Acampamento Meio-Sangue, seus anos no Acampamento Júpiter. Ele era novamente um garotinho de dois anos assustado e vulnerável. Até a cicatriz em seulábio, de quando ele tentara comer um grampeador quando bebê, doía como uma ferida recente. 
— Mãe?
— Sim, querido. — A imagem dela tremeluzia. — Venha. Venha me dar um abraço.
— Você… você não é real.
— É claro que ela é real. — A voz de Michael Varus soava distante.
— Você acha que Gaia ia deixar um espírito tão importante se deteriorar no Mundo Inferior? É sua mãe, Beryl Grace, estrela da tevê, namorada do rei do Olimpo, que a rejeitou não apenas uma, mas duas vezes, tanto sob o aspecto romano quanto o grego. Ela merece justiça tanto quanto qualquer um de nós. O coração de Jason vacilou. Os pretendentes se aglomeravam a sua volta, assistindo a tudo.
Sou a diversão deles, percebeu Jason. Os fantasmas provavelmente achavam aquilo ainda mais interessante do que dois mendigos brigando
até a morte.
A voz de Piper surgiu em meio ao zunido em sua cabeça:
— Jason, olhe para mim.
Ela se encontrava a pouco mais de cinco metros de distância, segurando sua ânfora de cerâmica. Não estava mais sorrindo. Seu olhar era duro e autoritário, tão impossível de ignorar quanto a pena azul de harpia em seu cabelo.
— Essa não é sua mãe. A voz dela está lançando alguma magia sobre você, como o charme, só que mais perigoso. Não está sentindo?
— Ela tem razão. — Annabeth subiu na mesa mais próxima e chutou uma travessa, chamando a atenção de uma dezena de fantasmas. — Jason, isso é só um resquício da sua mãe, como uma ara, talvez, ou…
— Um resquício! — O fantasma de Beryl Grace começou a chorar. —Sim, veja a que eu me reduzi. É tudo culpa de Júpiter. Ele nosabandonou. Ele não me ajudou! Eu não queria deixá-lo em Sonoma,
querido, mas Juno e Júpiter não me deram escolha. Eles não iam permitir que ficássemos juntos. Por que lutar por eles agora? Junte-se aos pretendentes. Lidere-os. Podemos voltar a ser uma família!
Jason sentia centenas de olhos sobre si. Essa é a história da minha vida, pensou Jason com amargura. Todo mundo sempre o observando, esperando que ele os liderasse. Desde o momento em que chegara ao Acampamento Júpiter, os semideuses romanos o trataram como um príncipe. Apesar de suas tentativas de alterar seu destino, se juntar à pior coorte, tentar mudar as tradições do acampamento, assumir as missões menos glamorosas e fazer amizade
com os semideuses menos populares, ainda assim ele se tornara pretor. Como filho de Júpiter, seu futuro tinha sido garantido.
Ele se lembrou do que Hércules lhe dissera no Estreito de Gibraltar: 
Não é fácil ser filho de Zeus. É muita pressão. Isso pode fazer um cara
surtar.
Agora Jason estava ali, tenso como a corda de um arco.
— Você me abandonou — disse ele à mãe. — Isso não foi Júpiter nem Juno. Foi você.
Beryl Grace deu um passo à frente. As rugas de preocupação em torno de seus olhos e a rigidez aflitiva em sua boca lembraram a Jason sua irmã, Thalia.
— Querido, eu disse que ia voltar. Foram minhas últimas palavras para você. Não se lembra?
Jason estremeceu. Nas ruínas da Casa dos Lobos, sua mãe o havia abraçado pela última vez, sorrindo, mas com os olhos cheios de lágrimas.
Está tudo bem, garantira ela. Mas mesmo muito pequeno Jason soubera que nada estava bem. Espere aqui. Vou voltar para buscar você. Logo, logo estaremos juntos. Ela não voltou. Em vez disso, Jason ficou andando sem rumo pelas ruínas, chorando, sozinho, chamando pela mãe e por Thalia, até que os lobos foram buscá-lo.A promessa não cumprida de sua mãe estava no âmago de quem ele
era. Jason construíra toda a sua vida em torno da inflamação gerada por aquelas palavras, como o grão de areia no centro de uma pérola.
As pessoas mentem. Promessas são quebradas.
Era por essa razão, por mais que isso o aborrecesse, que Jason seguia as regras. Ele cumpria suas promessas. Não desejava abandonar ninguém, repetir o que haviam feito a ele: mentido e o abandonado.
Agora sua mãe estava de volta, apagando a única certeza que Jason tinha sobre ela: que havia partido para sempre.
Do outro lado da mesa, Antínoo ergueu sua taça.
— É um grande prazer conhecê-lo, filho de Júpiter. Escute sua mãe.
Os deuses cometeram muitas injustiças contra você. Por que não se junta
a nós? Imagino que essas duas criadas sejam suas amigas. Vamos poupá-las. Quer que sua mãe permaneça neste mundo? Podemos fazer isso. Você deseja ser um rei…
— Não. — A mente de Jason girava. — Não, meu lugar não é com vocês.
Michael Varus o encarou com olhos frios.
— Tem certeza, meu colega pretor? Mesmo que derrote os gigantes e Gaia, você voltaria para casa, como fez Odisseu? Onde é seu lar agora? Com os gregos? Com os romanos? Ninguém vai aceitá-lo. E, se você conseguir voltar, quem garante que não vai encontrar ruínas como estas?
Jason observou o pátio do palácio. Sem as varandas e colunatas, não havia nada além de uma pilha de pedras no alto de uma montanha estéril. Só a fonte parecia real, jorrando areia como um lembrete do poder ilimitado de Gaia.— Você era um oficial da legião — disse ele a Varus. — Um líder de Roma.
— Você também era — retrucou Varus. — Nossas lealdades mudam.
— Você acha que eu pertenço a este grupo? — perguntou Jason. — Um bando de perdedores mortos esperando alguma esmola de Gaia e choramingando que o mundo deve alguma coisa a eles?
Por todo o pátio, fantasmas e ghouls ficaram de pé e sacaram suas armas.
— Cuidado! — berrou Piper para a multidão. — Os homens neste palácio são seus inimigos. Cada um deles os esfaquearia pelas costas na primeira oportunidade!
Nas semanas anteriores, o charme de Piper tinha ficado ainda mais poderoso. Ela agora tinha falado a verdade, e a multidão acreditava. Todos olharam de soslaio uns para os outros, as mãos ainda no cabo de suas espadas.
A mãe de Jason se aproximou dele.
— Querido, pense bem. Desista da missão. O Argo II nunca vai conseguir fazer a viagem até Atenas. E mesmo que consiga, há o problema da Atena Partenos.
Seu corpo estremeceu.
— O que quer dizer com isso?
— Não finja ignorância, querido. Gaia sabe sobre sua amiga Reyna, sobre o filho de Hades, Nico, e o sátiro Hedge. Para matá-los, a Mãe Terra enviou seu filho mais perigoso: o caçador que nunca descansa. Mas você não precisa morrer.
Os ghouls e fantasmas se aproximaram, todos os duzentos encarando Jason com expectativa, como se ele fosse puxar um coro do hino nacional a qualquer momento. O caçador que nunca descansa. Jason não sabia quem era esse caçador, mas precisava alertar Reyna e Nico. Ou seja: tinha que sair dali vivo.
Ele olhou para Annabeth e Piper. As duas estavam prontas, à espera de seu sinal.
Ele se obrigou a encarar os olhos da mãe. Ela parecia a mesma mulher que o havia abandonado nas florestas de Sonoma catorze anos antes. Mas Jason não era mais uma criancinha. Era um veterano de
guerra, um semideus que tinha enfrentado a morte inúmeras vezes. E o que ele viu diante de si não era sua mãe, pelo menos não o que ela era: amorosa, carinhosa, protetora. Um resquício, foi como Annabeth a chamou.
Michael Varus dissera que os espíritos ali eram sustentados pelos seus maiores desejos. O espírito de Beryl Grace literalmente brilhava de necessidade. Os olhos dela imploravam pela atenção de Jason. Ela estendeu os braços, desesperada para possuí-lo.
— O que você quer? — perguntou ele. — O que a trouxe até aqui?
— Eu quero viver! — exclamou ela. — Juventude! Beleza! Seu pai poderia ter me tornado imortal. Poderia ter me levado para o Olimpo, mas me abandonou. Você pode consertar isso, Jason. Você é meu valente guerreiro!
O aroma de limão amargou, como se ela estivesse começando a queimar.
Jason se lembrou de uma coisa que Thalia dissera: que a mãe deles fora ficando cada vez mais instável, até que seu desespero a levara à loucura. Ela havia morrido em um acidente de carro por dirigir embriagada. O vinho aguado no estômago de Jason se revirou. Ele decidiu que, se sobrevivesse àquele dia, nunca mais beberia álcool de novo.— Você é uma mania — concluiu Jason. A palavra lhe vinha à mente de seus estudos no Acampamento Júpiter, muito tempo antes. — Um
espírito da insanidade. Você foi reduzida a isso.
— Sim — concordou Beryl Grace. A imagem dela cintilou através de um espectro de cores. — Me abrace, filho. Sou tudo o que restou a você.
A voz do Vento Sul surgiu em sua mente: Você não pode controlar a sua ascendência, mas pode escolher sua herança. Jason sentiu como se estivesse sendo remontado, uma camada de cada
vez. Seu coração se acalmou. O frio deixou seus ossos. Sua pele se aqueceu ao sol da tarde.
— Não — declarou ele, e olhou para Annabeth e Piper. — Minhas lealdades não mudaram. Minha família apenas aumentou. Sou filho da Grécia e de Roma. — Ele encarou a mãe pela última vez. — Não sou seu filho.
Ele fez um sinal antigo para afastar o mal, três dedos partindo do coração, ao que o fantasma de Beryl Grace desapareceu com um chiado suave, como um suspiro de alívio.
O ghoul Antínoo jogou sua taça para o lado, avaliando Jason com uma expressão de nojo preguiçoso.
— Bem… — disse ele. — Acho que está na hora de matar vocês.
Os inimigos se aproximaram por todos os lados.

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